O Indianismo, na literatura brasileira, faz referência à idealização do indígena retratado como um mítico herói. Foi uma das peculiaridades do romantismo no Brasil durante o século XIX. Juca Pirama é personagem do poema I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, com 484 versos, dividido em dez cantos, e um dos mais famosos do Romantismo Brasileiro. Considerado por muitos a obra-prima do poeta maranhense.

O poema retrata a história de um guerreiro tupi que é aprisionado por uma tribo canibal e que deverá ser sacrificado em um ritual. O chefe da tribo propõe que Juca cante suas façanhas para que os guerreiros tenham maior gosto em sacrificá-lo. O poema completo está inserido nas páginas finais da obra JUCA PIRAMA: MARCADO PARA MORRER, uma aventura steampunk que se apropria do personagem de Juca para compor seu herói, em uma São Paulo, de 1907, lotada de máquinas a vapor, robôs, mistérios, assassinatos e magia.

Juca Pirama é um valente das ruas da cidade, que vive para proteger algumas crianças sem lar, e se mete em brigas contra aproveitadores. Devido às suas habilidades, ele é contratado para proteger as duas filhas de um barão do café que foi sequestrado. Cassandra é a filha mais velha, que assume os negócios do pai na sua ausência. Ela é corajosa, atrevida, o braço direito do pai, e agora tem a chance de direcionar o poder da família para a construção de uma sociedade mais igualitária para os gêneros.

Cecília é a filha mais nova, uma adolescente, que possui uma grande fragilidade emocional e é mantida sob remédios. A irmã a mantém protegida a todos os momentos do dia, longe do contato com as pessoas, quase uma prisioneira. Da mesma forma que Cassandra, a sua vida agora é ameaçada, uma vez que os inimigos do pai querem aproveitar o desaparecimento para se apoderar dos negócios e da fortuna da família.

Juca pensa que será apenas um trabalho arriscado de segurança, mas logo se vê metido no meio de uma trama onde todos são traidores, ligados de alguma forma a uma seita maligna que pretende muito mais do que conseguir dinheiro ou o controle das indústrias Gouvêa. E então ele tem que lutar pela sua vida e ainda proteger as duas irmãs.

JUCA PIRAMA: MARCADO PARA MORRER é um livro curto, extremamente viciante, com personagens construídos de uma forma que surpreende. Juca conquista logo nas primeiras páginas. Tem um jeito petulante, de valentão, ao mesmo tempo que possui a ingenuidade dos grandes heróis. Ele vai de um trambiqueiro a um herói através de atitudes altruístas, o que explica porque nunca conseguiu sair da sarjeta. A forma como o personagem evolui nas suas ambições no decorrer da história, é muito competente, e temos no final, uma recompensa que abre margem para muitas aventuras.

As duas personagens femininas são igualmente fascinantes. Primeiro Cassandra, que consegue extrair emoções diferentes do leitor conforme a aventura avança. Apesar de suas decisões questionáveis, é fácil compreender o que a motivou a tomá-las. E Cecília ganha espaço a partir da segunda metade da história, quando sua presença se torna essencial para a solução dos mistérios e se torna o objeto que todos desejam.

JUCA PIRAMA: MARCADO PARA MORRER é um steampunk nacional que conquistou meu gosto e se tornou uma das melhores leituras do gênero. A história traz várias referências a autores e personagens da literatura nacional, como o próprio Juca. As últimas páginas, como já disse acima, são ocupadas pela reprodução do poema de Gonçalves Dias, bem como um extenso texto de preparação para a compreensão do poema. Vale demais a leitura.


AUTOR: Enéias TAVARES
EDITORA: Jambô
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 192


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