Como fã, muito fã de Alita, foi a realização de um sonho finalmente ver esse filme! Há quase uma década que eu esperava por ele, desde quando Cameron anunciou que os direitos de adaptação lhe pertenciam e que ele iria, um dia, realizar a produção. E mais feliz fiquei ao confirmar que ele seguiu, quase à risca, o que acontece nos primeiros volumes do mangá, quando se fecha a história de um determinado personagem. Se você não leu a resenha do mangá, só clicar aqui.

A história se passa, principalmente, em duas cidades simbióticas: Zalém, um local idílico, que flutua entre nuvens; e a Cidade da Sucata, que fica logo abaixo de Zalém, e que a abastece e recebe, em troca, todo o seu lixo. E é no meio do lixo, que Ido, um caçador de recompensas aposentado, encontra o tronco de uma ciborgue. Ele resolve reconstruí-la, e dá-lhe o nome de Alita. Os dois começam uma relação de filha e pai, até que Ido descobre que Alita tem alguns dons ímpares para combate, e ele não sabe de onde. Ao mesmo tempo, Alita descobre o passado de Ido e resolve também se tornar uma caçadora de recompensas. Ao mesmo tempo, alguém muito poderoso de Zalém descobre que Alita está viva e decide iniciar uma caça para que a matem.

Embora seja totalmente criada em computação gráfica, com dez minutos de filme, eu já não me lembrava mais disso. Nem os olhos maiores, seguindo o desenho do mangá, se destacavam entre os olhos dos atores reais. Para mim, Alita existia em tela, tamanha a perfeição. Rosa Salazar consegue dar os movimentos que a personagem precisa, as emoções que ela transmite, a carga emocional que a situação exige. E tudo isso é feito bem de perto, dando para ver, inclusive, os poros da pele.

Christoph Waltz, como Ido, é perfeito, não consigo imaginar outro ator no papel. Ele tem a presença necessária, bem como o carisma de um pai. O ator é incrível, porque ele passa de papéis de vilão a de herói com total convencimento. Da mesma forma, Jennifer Connelly consegue representar a ex-esposa de Ido com a mesma seriedade. Ele é sensual quando precisa, é maquiavélica quando deseja algo e é uma mãe quando consegue enxergar em Alita a filha que ela perdeu junto com Ido.

Mahershala Ali (DEMOLIDOR, da Netflix) e Ed Skrein (DEADPOOL) fazem vilões sem grande destaque. Não comprometem o resultado, mas também não criam nada de destaque. O mesmo não se pode dizer de Jackie Earle Haley (PREACHER), irreconhecível devido à maquiagem. Ele é assustador, perigoso e tem as melhores lutas contra Alita.

Keean Johnson faz o interesse romântico de Alita, e é ele quem encerra o primeiro arco do mangá de forma dramática. Infelizmente, o personagem não tem a mesma força em tela que tem no papel. Não apenas por sua atuação limitada, mas por conta do próprio roteiro. E aí chegamos na parte ruim do filme.

Eu, como fã, já sou afetivamente ligado aos personagens. Eu sei o que acontece em todos os volumes, sei como a história termina. Mas quem nunca leu, não vai ter o mesmo sentimento. Apesar de se concentrar apenas nos primeiros volumes, mesmo assim, existe muito para ser contado, para ser desenvolvido. No mangá, o leitor acompanha, pouco a pouco, o crescimento do relacionamento de todos, de Alita, de Hugo, de Ido, até mesmo dos vilões e suas motivações. É criado um vínculo. Isso não acontece no filme. Porque não há tempo, há muito para mostrar, então não há espaço para criar esse vínculo necessário.

Além disso, a história de Alita vai numa crescente de emoções para a preparação do clímax do último volume. Como o filme mostra apenas o início da história, não existe um real clímax, apenas algumas lutas contra vilões que sequer são os mais perigosos ou os principais. Aliás, do vilão principal, apenas se tem um vislumbre. Então, para quem não conhece a história, fica a sensação de que faltou algo. Ou melhor, não apenas de que faltou, mas também confuso. Como o conteúdo desses primeiros volumes não cabem em duas horas de filme, muitas partes são resolvidas sem que a platéia veja, apenas é contado por algum personagem ou é deduzido.

Um outro ponto que pode decepcionar, é uma certa falta de sujeira no filme. É uma história cyberpunk, o mangá mostra um mundo destruído, decadente, poluído, com lixo e degradação por todos os lados. Já o filme é muito claro, muito limpo, até mesmo bonito. Ainda se vê construções inacabadas, ou destruídas, e muito lixo, mas nenhuma dessas coisas causa repulsa, porque são esteticamente bem alinhadas. A própria fotografia é muito certinha, e os movimentos da câmera são balanceados demais. Faltou agressividade. Essas faltas comprometem o interesse e explicam porque o filme não está sendo bem recebido. O que é uma pena.

De qualquer forma, e apesar disso, considero que seja a adaptação mais fiel e mais bem produzida de um mangá pelo ocidente. Tudo no filme é de primeira, é bem feito, é caprichado. Nota-se, sem qualquer dúvida, o cuidado e o carinho que se gastou. Não é suficiente para um público que sequer é fã de mangás, mas, pelo menos, fez feliz quem é e quem, finalmente, teve o privilégio de ver Alita no cinema. Então, se você quer, ou tem curiosidade, de entrar nesse mundo, dê uma chance e vá ao cinema. E depois, ou antes, compre o mangá para ler.

Ah, e antes que se perguntem por que dei cinco estrelas, uma vez que o filme possui problemas, bem… porque eu quero! 😛


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: Robert RODRIGUEZ
DISTRIBUIÇÃO: Fox
DURAÇÃO: 2 horas e 2 minutos
ELENCO: Rosa SALAZAR, Christoph WALTZ, Jennifer CONNELLY, Mahershala ALI, Ed SKREIN, Jackie Earle HALEY, Keean JOHNSON




 

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