Leena Cotton tem 29 anos e sente que já não é mais a mesma. Eileen Cotton tem 79 e está em busca de um novo amor. Tudo de que neta e avó precisam no momento é pôr em prática uma mudança radical. Então, para colocar suas respectivas vidas de volta nos trilhos, as duas têm uma ideia inusitada: trocar de lugar uma com a outra. Resenha dupla para vocês!

AMANDA

Meu primeiro contato com a autora Beth O’leary foi no livro TETO PARA DOIS, onde Beth trata um assunto importante: relacionamentos abusivos. Ela traz dois tipos e o que causa nos parceiros. Desde então, me apaixonei por sua escrita. Ela não passa pano para ninguém, escreve de forma leve e descontraída, e não utiliza esses assuntos importantes sem profundidade apenas para ganhar mídia.

Mas isso foi em TETO PARA DOIS, esta resenha vai ser sobre A TROCA. Um livro que eu estava morrendo de curiosidade desde que li sobre o lançamento do mesmo.

Nossas duas personagens se chamam Eileen Cotton. Porém Eileen número um, é a avó, uma mulher doce, porém forte, que sabe onde deve se meter e como deve agir em diversas situações. Ela é incrível e muito perspicaz, e vemos muito de si em Leena.

Leena é Leena. Uma mulher corajosa, inteligente e que sabe o que quer, ela sempre foi uma pessoa que corre atrás do seus sonhos e cheia de confiança, porém após a morte da irmã começou a perder seu brilho.

A troca vem da ideia de Leena, que acredita que sua avó precisa viver um pouco do que perdeu antes mesmo de se casar, décadas antes, e devo dizer que essa foi apenas uma das ideias geniais da mulher. Porém passa despercebido, a ela, que está fazendo bem a si também.

É bem divertido ver a troca das duas, cada uma morando em um canto diferente, e as pessoas ao redor aprendendo a conviver com as Eileeen’s.

Adorei os “namoros” da Eileen, fiquei imaginando a minha avó no lugar, e dei muita risada diante das situações.

Na verdade, ambas as personagens são incríveis, do tipo “meu deus quero ser igual a ela quando crescer“, mas eu amei muito a Eileen, ela tem um ar de avó mesmo, daquelas teimosas que não descansam enquanto não conseguem o que quer.

É um livro bem nostálgico, onde você se apaixona pelos personagens, principalmente os idosos, que me fizeram rir muito, é contagiante a energia deles na leitura.

Porém, acredito que o casal principal foi o par de Eileen, porque não consegui sentir uma paixão iminente entre Leena e o dito cujo, tudo bem que eles eram fofos e tudo, mas faltou uma química a mais ali.

Enfim, é um livro simplesmente fofo demais, onde os personagens são cativantes (principalmente os idosos, amo vocês), traz uma nostalgia de casa de avó, e ao mesmo tempo traz como os mais “antigos” estão lidando com a tecnologia.

Mas o que mais me emocionou foi a forma de como é tratado o luto, pois como disse, Leena perdeu seu brilho por isso, mas e a mãe dela? E sua avó? Leena apenas se afogou em trabalho e se distanciou deles, mas isso fez bem a ela? Isso a autora retrata, a perda de uma pessoa próxima, e como acaba afetando tudo em volta por um período tão longo.

É um livro que eu recomendo para quem quer rir e se emocionar, e pensar como seria estar no lugar das Eileen’s.

AYLLANA

Não sou do tipo de leitora que se aventura com livros de drama. Pelo contrário, sou do tipo que acredita que a vida já é trágica demais para a gente ler coisas que nos fazem ficar ainda mais tristes. Depois de uma temporada com obras do estilo, concluí que a minha linha de raciocínio era um absurdo sem fundamento nenhum.

Em A TROCA, as Cottons (avó/mãe/filha) estão fragilizadas pelo luto. Após uma crise de pânico no trabalho, Leena (filha) é obrigada a tirar férias. Desesperada, sem saber como lidar com todo o vazio que sente, já que o trabalho era a sua fuga, ela propõe a sua sensacional avó uma troca. Enquanto a garota iria para Dale, sua cidade natal e onde fica a casa da anfitriã, Eileen (avó) iria para Londres, para a casa da neta, viver os seus sonhos.

Falar sobre a morte é algo muito delicado. Existe uma linha muito tênue entre o sentimentalismo e o sensacionalismo. É fácil exagerar na mão e cair em piegas inverossímeis. Não é isso que acontece em A TROCA.

Mas calma, o livro não é só sobre a morte. Diria que é um lembrete de que a velhice não é um final, pelo contrário, a oportunidade de viver coisas únicas que só a sabedoria + experiência permitem. Sem sombra de dúvidas, me fez ver com muito mais ternura e amor todas as pessoas de mais de idade.

Isso graças, primeiramente, aos Patrulheiros do Bairro, um conjunto de pessoas de mais de idade, repletas de personalidade e vivacidade, o contrário da fragilidade que eu sempre defini como rótulo para um grupo de idosos. Como resultado, as cenas com o grupo, são sensacionais. Todas divertidas e repletas de aprendizado.

É impossível não se sentir com o coração quentinho e a vontade de participar daquilo tudo. Saío de A Troca com o questionamento de “como tratamos nossos idosos?”. Quantas pessoas incríveis deixamos de conhecer, seja por causa da nossa vida corrida, como também, sobre a nossa própria visão limitada? Quantas pessoas solitárias existem por aí, só precisando de um ombro amigo?

Beth O’Leary, mesma autora de TETO PARA DOIS, criou com tanta competência cada um dos personagens, que nos sentimos tocados e mexidos com os problemas vividos. Nenhum deles sobra, ninguém é secundário ou desnecessário. Cada um deles, da sua maneira, é importante para a trama proposta.

Além disso, não podemos deixar de lado a brilhante escrita da autora. Nós começamos por metas de leitura, mas a cada vez que a história se aprofundava, era mais difícil ler só o que havíamos combinado.

Em suma, termino a leitura muito mais reflexiva sobre a morte, a velhice e novos começos. Seja você fã de drama, terror, aventura ou o que for, acredito que A Troca vale a tentativa.


AUTORA: Beth O’LEARY
TRADUÇÃO: Ana RODRIGUES
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 350


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