UM ASSASSINO NOS PORTÕES, o terceiro volume da saga UMA CHAMA ENTRE AS CINZAS, está entre nós. O que começou como uma distopia cheia de intrigas políticas, com o tempo se tornou quase um Harry Potter, com direito a magia e seres fantásticos. Mas será que a trama num geral ainda consegue manter a extrema qualidade apresentada no inicio dessa saga? Vamos descobrir!

Trata-se de um texto sobre o terceiro livro da saga, logo o texto pode conter spoilers dos livros anteriores: UMA CHAMA ENTRE AS CINZAS (resenha aqui) e UMA TOCHA NA ESCURIDÃO (resenha aqui).

O império está por um triz, a comandante Keris Ventura, um autêntico demônio em forma de gente, está juntando um exército e acumulando aliados. Seu objetivo é assumir o trono e matar toda a família do imperador Marcus, outro demônio que ama torturar sua própria esposa. Keris parece estar na frente nessa batalha graças a seu envolvimento com o Portador da Noite, uma entidade demoníaca que lhe dá poderes e que tem seus próprios objetivos. Nossos protagonistas estão separados, Laia e seu irmão Darin estão cada vez mais focados na libertação do seu povo. Elias está vivendo sua nova função, que também pode ser chamada de prisão, e Helene, a águia de sangue, serva do imperador Marcus, está correndo contra o tempo para deter Keris e seu domínio sobre o império. Mas por ordem do imperador, ela precisa fazer isso no sigilo, além de ter que cuidar de sua irmã, a imperatriz que é constantemente massacrada pelo imperador.

O livro segue a mesma estrutura do anterior, os três protagonistas tem seus capítulos de pontos de vista. As vezes eles se cruzam, mas como uma experiência separada; uns se destacam mais que outros. Começando pela parte boa, Helene tem o melhor arco do livro. Seu capitulo dá um excelente panorama do que está acontecendo no império e mostra para o leitor o verdadeiro significado de corrida contra o tempo. Ela tem objetivos claros, missões que dão errado e muitas manobras políticas. Seu arco traz aquele sentimento de uma história humana que era tão presente no primeiro livro da saga. Tem magia sim, mas aqui ela é sutil, usada em momentos chaves e não como solução para tudo. As tramas políticas estão a todo o vapor, ela tem poder bélico, mas não pode sair atacando os seus inimigos, ela precisa se preocupar com o olhar dos súditos para o império, ela precisa controlar um governante louco que desconta sua raiva na esposa e, acima de tudo, ela precisa vencer o ódio e tentar superar o assassinato de toda a sua família pelas mãos do imperador que hoje ela é obrigada a servir.

A protagonista original da saga era Laia, mas suas desventuras são resumidas em uma corrida em um círculo, que felizmente culmina em algo bom. Mas o percurso é bem difícil de trilhar. Primeiro temos a sua luta para libertar o próprio povo que é feito de escravo, depois ela é capturada várias vezes, foge e em seguida recebe uma nova missão. Tem que ser ela a pessoa que irá derrotar o Portador da Noite e impedir o mesmo de libertar criaturas que vão devastar o mundo que ela conhece e ama. Antes de partir para o ataque, ela precisa achar alguns objetos e sua jornada parece até uma busca pelas esferas do dragão, como no anime clássico “Dragon ball Z”. Jornada lenta, desinteressante e pouco inspirada, que só se salva pelo seu desfecho extremamente interessante. Ela se liga com outro arco e, por incrível que pareça, esse encontro é muito natural e faz sentido na trama. Depois de tanta volta, finalmente temos uma parceira que com certeza vai render incríveis momentos no próximo livro.

O pior arco fica com Elias, que agora é o Apanhador de Almas, uma entidade que guia os mortos para a passagem da vida. Arco que se inicia com o final do livro anterior e é magia 100% dentro desse universo, e a autora tenta nos deixar familiarizados com as coisas que ela quer construir futuramente. Mas é um tom extremamente diferente e destoa demais de todo o resto do livro. Uma hora eu estou imerso em guerras e tramas políticas; e na outra, a autora tenta enfiar goela abaixo do leitor fadas, criaturas, demônios e magia. É tão ruim que os capítulos não andam, eles se arrastam. Não melhora em nenhum momento, uma pena, pois o personagem era incrível e agora parece estar preso num lugar que ninguém pode salvá-lo.

Felizmente todos os defeitos na trama que me incomodaram no livro anterior, não estão presentes aqui. Não temos mais apelação e nem falsos ganchos baratos. Os capítulos são pequenos e, até mesmo nos ruins, dá pra se vencer, pois sabemos que um é ruim, mas tem outros dois bem melhores. O livro reserva algumas revelações bem fortes, mas ele não desenvolve isso muito bem. Posso estar sendo ingênuo, mas espero realmente que a autora resgate essas revelações futuramente para dar a elas seu devido tempo e espaço.

No final, nós temos uma loucura, guerra e muita confusão. A união de dois arcos distintos injeta um gás na trama que era muito necessário. Outro segue ruim, mas dá pra fingir que esse não existe. Ao mesmo tempo em que tem capítulos ágeis, a trama geral se arrasta, um livro que claramente não precisava de quatrocentas e trinta páginas. Melhorou e muito se comparado com o anterior, que é realmente uma experiência bem problemática. O final faz a jornada valer a pena e deixa uma inquietude interessante no leitor. E aí, agora as coisas vão começar a esquentar, cadê o próximo livro, meu Deus?


AUTORA: Sabaa TAHIR
TRADUÇÃO: Jorge RITTER
EDITORA: Verus
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 430


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