É de praxe em festas com amigos próximos, que não se veem com muita frequência, relembrar o passado e discutir como ele afetou, ou ainda afeta, a vida de cada um. Isso é a base do novo filme da Netflix, THE BOYS IN THE BAND, remake de um clássico dos anos 70, um filme que quebrou paradigmas e hoje é um autentico clássico. Será que essa nova versão vale o nosso tempo? Vamos descobrir!

Um grupo de homens gays e bem resolvidos se unem num apartamento de um deles para comemorar o aniversário de Harold, um amigo em comum. Todos têm uma história em conjunto e não se vêem há muito tempo. A rotina normal da festa é quebrada, quando um ex-amigo de faculdade do anfitrião da festa chega do nada na comemoração. Hétero e aparentemente passando por alguma dificuldade, o homem deixa a todos desconfortáveis. A normalidade vai pelos ares, quando um jogo entre os convidados é sugerido, cada um precisa ligar para uma pessoa que amou no passado e se declarar para o mesmo. Quem fizer mais passos, ganha mais pontos, e, consequentemente, ganha o jogo. Mas nem todos terão facilidade em cumprir tudo isso, já que alguns dos ex-amores são héteros, outros perderam o contato, a intimidade ou sequer tem uma amizade. E durante esse jogo, remorsos do passado voltam à tona, numa trama que trabalha sobre como o passando moldou como cada um dos homens é hoje em dia.

Originalmente baseado numa peça de teatro, que virou filme nos anos 70, e que agora recebe mais uma chance de ser apresentado para a nova geração. O próprio autor da peça está envolvido nessa nova versão e o roteiro tem sua aprovação. A trama é bem simples em estrutura, se passa praticamente toda dentro de um apartamento, e o entrosamento dos personagens é o caminho que nós iremos acompanhar. O jogo em si parece bobo, mas ele abre portas para o desenvolvimento dos personagens, alguns tem mais espaço que outros. Ter que revirar memórias do passado e lidar com elas na frente de várias pessoas, não é algo fácil. Isso, às vezes, tem ligação direta com a forma como os personagens se aceitaram LGBT ou até mesmo explica traumas e o rumo da vida que cada um seguiu. Mesmo sendo focado em vivências gays, é fácil se identificar, mesmo não fazendo parte desse grupo. Já se imaginou tendo que revirar nas memórias qual foi seu grande amor? Será que essa pessoa iria te tratar bem? Você ainda sente algo por ela?

A trama paralela que acompanha esse convidado inesperado que precisava urgentemente conversar com seu ex-amigo de faculdade caminha e estaciona numa zona de conforto. Não tem surpresa, pois o público já sabe onde isso vai dar, o caos que ele causa logo é dissipado e o personagem é engolido pela trama inchada que não sabe para onde quer ir.

O roteiro é simples e interessante, mas isso sozinho não sustenta um filme, um longa de mais de duas horas. O problema do filme fica por conta do elenco, que mesmo com atores famosos, entregam desempenhos sem encanto e em alguns momentos no piloto automático. Famoso pela serie THE BIG BANG THEORY, Jim Parsons é o anfitrião da noite e dono do apartamento, onde a festa acontece. Seu personagem começa de um jeito e termina de outro, uma mudança bem esquisita e nada agradável de se acompanhar, particularmente o seu personagem foi uma pedra no sapato pra mim. Matthew Bomer, de THE SINNER, vive um personagem interessante e com uns momentos bacana, não se destaca, mas pelo menos não entrega momentos ruins. Zachary Quinto, dos novos STAR TREK, é um individuo que está fazendo aniversário, aparece muito pouco e seu personagem é um clichê ambulante. Michael Benjamin Washington é o único que entrega realmente uma cena boa, até emocionante, sem falar que seu personagem parece real e não apenas um estereótipo.

O resto do elenco tem momentos bons, mas que acabam sendo apenas algumas poucas cenas variadas, fazendo pouca ou nenhuma diferença num todo. A reconstrução de época é interessante, o filme se passa nos anos 70 e tudo é convincente. Figurinos e maquiagem também merecem destaque.

No final, nós temos um filme lento, longo demais e que tem uma proposta simples, mas faltou uma direção mais firme e criativa para deixar com um peso dramático mais potente. Acaba sendo uma experiência esquecível, mesmo que sua trama base seja boa e que tenha uma mensagem tocante. Não é ruim, mas também perde a oportunidade de ser bem melhor.


DIREÇÃO: Joe MANTELLO
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 2 horas e 10 minutos
ELENCO: Matt BOMER, Zachary QUINTO, Jim PARSONS




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