Se Mariana tem alguma certeza na vida, é a de que o professor de tragédia grega da Universidade de Cambridge, Edward Fosca, é um monstro assassino. Tara, uma aluna da universidade, foi encontrada morta a facadas. Ninguém sabe o motivo ou quem cometeu o crime. A única pista vem de Zoe, uma quase filha adotiva de Mariana, que dividia o quarto com Tara em Cambridge: Edward Fosca mantém um clube particular de alunas que o idolatram, As Musas, e Tara era uma dessas alunas.

Mariana é uma terapeuta de grupo e ex-aluna da universidade. Como ex-aluna, ela pode entrar na instituição e se hospedar, o que faz para conseguir acompanhar a investigação do assassinato de Tara. A investigação da polícia segue por um caminho que leva o assassino para fora de Cambridge, enquanto Mariana segue por um caminho que a leva diretamente para Edward Fosca. Mas ele é um professor famoso, bonito, bem assessorado e com grande prestígio. Além de extremamente inteligente. As alunas que o seguem são fascinadas por suas aulas, sempre cheias.

Mariana descobre várias pistas que ligam o crime a Fosca, mas tudo é circunstancial, subjetivo demais, insuficiente para que ela consiga convencer a polícia a investigar o professor. Em paralelo, Mariana também precisa lidar com o trauma da morte de Sebastian, seu marido, por quem era totalmente apaixonada. Ele morreu de forma trágica, quando saiu para nadar em uma das praias da Grécia, e se afogou. Isso deixou Mariana totalmente abalada, e ela só conseguiu se segurar, por seu trabalho e pela companhia de Zoe.

Quando chega na universidade para iniciar a investigação, Mariana conhece Fred, um dos jovens alunos, que se mostra insistente em participar e ajudar. Ele é um rapaz inteligente, mas desastrado, até cómico. Mais ainda, ele afirma que se apaixonou por Mariana assim que a viu, mesmo Mariana sendo dez anos mais velha do que ele. O relacionamento dos dois chega a ser um alívio no meio do drama das mortes. Sim, no plural. Isso porque dias após o assassinato de Tara, acontece outra morte, com outra garota das Musas. E depois mais uma…

AS MUSAS é um thriller de suspense com a narrativa em terceira pessoa, que deveria ser confiável, mas nenhum dos personagens deixa que isso aconteça. Até mesmo Mariana. Existe algo no passado dela, no relacionamento dela com Sebastian e com Zoe, que parece estar incompleto. Edward Fosca tem todos os traços de um assassino meticuloso e cruel, mas mesmo assim, algo está faltando, é tudo muito óbvio. As Musas são obcecadas pelo professor, mas não faz sentido que sejam mortas por ele, uma vez que o protegem de qualquer ameaça. Fred é um rapaz simpático, que conquista por sua ingenuidade, por sua paixão de adolescente, mas teria algo a mais por trás desse interesse por Mariana? E Zoe parece esconder detalhes da vida de Tara, sem um motivo que seja convincente. Ou seja, todos os personagens possuem algo que parece deslocado.

Alex Michaelides é o autor de A PACIENTE SILENCIOSA, um dos melhores thrillers que eu li na vida. Em AS MUSAS, ele segue uma receita parecida, com a injeção de pequenas informações desconexas ao longo da história, para todas se juntarem e apresentarem uma enorme reviravolta no clímax, que deixa o leitor totalmente surpreendido. E ele consegue o resultado pretendido, mas não com a mesma força que seu livro anterior. Mas isso não é um defeito, apenas uma constatação, uma vez que a história em si não é tão misteriosa.

AS MUSAS confirma a capacidade do autor em criar personagens complexos e que escondem traços e segredos que são revelados aos poucos. Aqui, esses personagens são tão perdidos psicologicamente quanto em A PACIENTE SILENCIOSA, mas de uma forma diferente, mais direta. Existe um assassino declarado, existe uma investigação, e existe uma personagem principal correndo atrás de quem perpetuou o crime. As coisas são mais factuais. A tarefa do leitor é descobrir quem é o assassino no meio dos personagens. E a tarefa não será fácil.


AUTOR: Alex MICHAELIDES
TRADUÇÃO: Marta CHIARELLI
EDITORA: Record
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 350


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