A desigualdade, infelizmente, está presente em todos os lugares do mundo, e o filme FILHOS DE ISTAMBUL vai nos mostrar o dia-a-dia de um homem que ganha a vida administrando uma cooperativa de catadores de papelão e outros materiais recicláveis. A rotina é quebrada quando ele se depara com uma criança dentro do cesto de materiais. A criança está com sinais de maus tratos e parece apavorada, o que fazer numa situação dessas?
A trama é bem simples e segue a relação desse homem e da criança, que rapidamente desenvolvem entre si um laço de amizade e companheirismo muito forte. O homem passa a cuidar e a criar a criança como se fosse o seu próprio filho, todos em volta se assustam com essa união e alguns satirizam. Mas porque é tão difícil eles apoiarem essa escolha? O roteiro se incia como algo simples, mas durante o seu caminho, ele atravessa um lado de Istambul, uma das cidades mais famosas e conhecidas do mundo, com um olhar mais aprofundado naquelas pessoas que as grandes câmeras, a mídia em si, finge que não existe, que são os catadores e as pessoas humildes.
É uma vida difícil e dolorosa, mas que ainda sim é vida e uma vida digna. O homem, que se chama Mehmet, luta contra problemas de saúde, mas ainda assim arranja, não sabemos de onde, meios de trabalhar e a de criar esse menino que apareceu do nada em sua vida. E quando o filme parece se estabilizar, vem uma grande virada que coloca a trama de cabeça para baixo. É uma mudança brusca e poderia ter sido feita de outra forma, mas ainda assim é válida e continua abordando temas importantíssimos, como saúde mental e traumas, principalmente na pauta de como os traumas da infância moldam a nossa vida adulta e até mesmo nos condenam.
Como filme em si, o projeto é deslumbrante visualmente, mostrando uma das capitais mais emblemáticas da história, a famosa Istambul, outrora conhecida como Constantinopla. A câmera passeia pela cidade mostrando o outro lado da moeda, uma cidade mais rústica e humilde, vivendo às margens da metrópole. O elenco é muito competente e, principalmente, a dupla de protagonista, o homem e o menino, emanam carisma e amizade. É impossível não sentir carinho e afeto por eles, a torcida do público para que de tudo certo com eles vem quase que automática.
O filme é uma produção turca e está disponível na Netflix, e assim como o filme MILAGRE NA CELA 7, também da Netflix e também um drama da Turquia, FILHOS DE ISTAMBUL aposta bastante no melodrama. É uma trama triste, com superações, traumas e dores, mas que, pelo menos, nesse filme em específico, o material não está preocupado em desenvolver uma trama que foge da realidade. Temos um relato pesado que exemplifica como um trauma pode moldar a nossa vida, deixando a gente às vezes sem saída. Acaba que o projeto passa uma mensagem muito triste e dolorosa, é aquele tipo de filme que machuca o espectador. Não tenta nublar a sua mente com tramas doces e açucaradas. O que temos é o retrato do abandono, da agressão e da destruição da saúde mental de uma pessoa. Não é um filme fácil de se assistir e pode, sim, despertar gatilhos em alguém que esteja sensível, então cautela é fundamental para quem for assistir. Esteja num dia bom ou com vontade de mergulhar numa trama social nada fantasiosa, com certeza o tempo investido não será perdido de graça.
DIREÇÃO:
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 1 hora e 45 minutos
Eu ouso dizer que foi um dos melhores filmes que vi nesse ano. Tá, eu exagero rs mas eu gostei demais.
E juro que não esperava o final de jeito nenhum, aliás, posso ter pensado em mil coisas, mas nunca no que de verdade era.
Tipo de filme que nos joga na trama sem dó e sem piedade.
Super recomendo!
Beijo
É um filme que marca demais, com certeza uma das experiências mais pesadas do ano.