Um povo dividido por uma árvore mágica. Mani tem quase onze anos e está destinada a ser a grande líder de seu povo. Ela precisa proteger a poderosa árvore de sementes mágicas numa batalha centenária, mas ela será obrigada a fazer duras escolhas para cumprir sua missão.

FABULOSA MANI é uma obra de Caio Tozzi, com ilustrações de Manu Cunhas, que resgata sob uma essência de histórias contadas pelos nossos avós em noite de reunião de família. O tempo todo tive a sensação de estar ouvindo uma nova história que fosse parte do nosso folclore, ou com aquele puxadinho de histórias que contam sobre o Brasil, mas que ao mesmo tempo poderiam ter acontecido em qualquer lugar, porque não se prendem ao lugar-espaço, mas sim aos elementos que o compõem.

Nesse caso em específico, temos uma história da guerra entre dois lados que se iniciou com amigos que se tornaram rivais. Os amigos encontraram uma semente que deu origem a uma árvore mágica, e a partir daí surge o clássico dilema de “quem é dono de quem?”. A proximidade com o recrutamento para a guerra centenária numa cidade dividida, os anseios, receios e todo o valor familiar que cercam Mani e Leon trazem um misto de: eu já vi isso antes, mas ao mesmo tempo é tão nosso e tão aconchegante e tão diferente que nos prende na leitura.

A leitura é muito rápida, fluida, não cansa e tem toques de protagonismo feminino e desafios. Sob uma narrativa simples, a obra consegue trazer assuntos importantes como o diálogo, pensar fora da caixa, explorar os desafios sob novas perspectivas, a coragem feminina e a capacidade das mulheres em salvarem a si mesmas, ainda que num mundo novo parcialmente encantado. É uma história sobre explorar as possibilidades, encarar os desafios, ser protagonistas das mudanças que queremos ver no lugar em que estamos. E tudo isso num ambiente de profundo respeito e admiração pela natureza e entendendo que o que acontece nela é resultado do que fazemos nela.

Enquanto lia tive receio de que os elementos encantados da história fossem ficar soltos, ou que não fossem se adequar muito ao enredo, o que definitivamente não aconteceu. Apesar de estarem presentes e terem esse papel fundamental no desenrolar da história, eles não ficaram sendo a peça sobre a qual a história se ancora, então todos os outros elementos e discussões puderam ser muito bem explorados. Podemo dizer que justamente a forma que a parte encantada foi colocada é o que remeteu aos contos do nosso folclore, ou de fábulas que ouvimos desde quando somos pequenos.

É uma história que nos estimula a questionar porque estamos em uma briga, ainda que essa briga seja centenária. Realmente conhecemos a coisa pela qual lutamos? Está certo sermos tão radicais e tão segregadores ao defender um ponto de vista? Não há como unir os dois lados da história e recriar um novo rumo? E ainda, nós realmente sabemos a história que veio antes?


AUTOR: Caio TOZZI
ILUSTRADOR: Manu CUNHAS
EDITORA: Globo Livros
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 160


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