Escrito por Letícia Wierzchowski, O PRIMEIRO E O ÚLTIMO VERÃO conduz o leitor a reflexões sobre episódios vividos por Clara no passado durante um verão inesquecível na praia de Pinhal. Aos catorze anos, a garota se apaixonou e deu o primeiro beijo, mas foi também quando começou a descobrir todas as preocupações e decepções que existem nas relações de amor. No livro, a personagem revela como conheceu o amor e a morte, e viveu toda a dor e a poesia que há em deixar a inocência da infância para crescer, um processo melancólico e doloroso para todos nós.

Uma história para ser boa, não precisa, necessariamente, de grandes reviravoltas, revelações, ações, personagens heroicos ou vilões insanos. Às vezes, as melhores histórias, são simples, mas bem escritas, muito bem escritas, tanto que conseguem transmitir mais emoções do que a melhor das aventuras.

Esse é o caso de O PRIMEIRO E O ÚLTIMO VERÃO. As lembranças de Clara, a personagem principal e narradora, sobre um de seus verões, aos 14 anos, na praia de Pinhal, no Rio Grande do Sul, é de uma simplicidade, de uma sensibilidade, que consegue fazer o coração bater mais rápido e as lágrimas rolares dos olhos, sem o leitor perceber. Cada um dos curtos 20 capítulos do livro, trouxe um misto de emoções que há muito tempo não encontrava numa leitura.

A história se concentra, principalmente, mas não só, nesse verão dos 14 anos, que acabou por ser o último da família de Clara na praia de Pinhal. A narrativa passa pelas recordações de uma época onde não existia a Internet, o Whatsapp, e-mail, quando as trocas de mensagens eram feitas por cartas, onde as conversas por telefone eram no meio da sala, ao ouvido de todos. Clara narra como eram os relacionamentos com os amigos, com os parentes, os passeios pela areia, os jogos em turma, as brincadeiras, as paqueras, o primeiro beijo, o primeiro namoro, a primeira traição.

Mas Clara também narra o passado, como a casa da praia foi construída por seus avós, a importância que ela exercia como centro do encontro com os amigos de verão, e narra os problemas familiares, como a descoberta de que seu pai tinha uma relação extraconjugal e em como sua mãe encarava essa situação. E por fim, lá para o final do livro, ela narra como é ter contato com a morte.

A narrativa de Clara pode ser comparada a uma história de suspense, onde o clímax vai aumentando no decorrer da trama. No caso dela, não é o clímax, mas, sim, o crescimento de sua maturidade, aquela passagem da fase inocente da infância para uma adolescência mais pés no chão, de consciência mais ampla para o que acontece ao redor. É assim com as amizades, com seu primeiro relacionamento amoroso e, principalmente, com a quebra do sonho de que seus pais são perfeitos, não erram. Sua constatação de que eles são um homem e uma mulher, que possuem defeitos, fraquezas e sonhos, como quaisquer outras pessoas, é tão natural, tão crível, que é impossível não acontecer uma identificação imediata pelo leitor com a personagem.

E essa é uma das características mais marcantes da obra. A veracidade e a honestidade da narrativa de Clara. É algo tão singelo, com palavras cuidadosamente escolhidas, frases extremamente bem construídas, e situações tão corriqueiras e semelhantes a todas que nós vivemos em algum momento de nossa infância, que nos emocionamos com o que acontece no livro ao mesmo tempo que nos emocionamos com nossas próprias lembranças de nosso passado.

Essa ligação é tão forte, tão natural, que o leitor, quando percebe, está totalmente preso na história de Clara. Mais que isso, passa a considerá-la como sua amiga, como alguém que realmente pode ter conhecido, ou que, no fundo, reflete aquilo que o leitor é ou vivenciou.

O PRIMEIRO E O ÚLTIMO VERÃO é uma obra que faz um passeio por aqueles breves momentos felizes que alguns de nós conseguiram viver em algum momento da vida. Ela também mostra que esses mesmos momentos são poucos e limitados, que eles terminam, por bem ou por mal, e que, por isso mesmo, devemos aproveitá-los ao máximo, mesmo, na maioria das vezes, não tendo consciência de que eles estão acontecendo. Normalmente, só ganhamos essa consciência muitos anos depois. Por isso, ficam marcados em nossas lembranças e servem para moldar nosso caráter e nossas escolhas futuras.

Tudo isso é narrado por Clara, através de constatações que ela mesma faz sobre tudo o que aconteceu naqueles e em outros verões anteriores. E ela termina, mostrando o óbvio: é impossível voltar neles para consertar as escolhas erradas; que as consequências de algumas ações, levam anos para aparecerem; que o amadurecimento é doloroso, impiedoso, mas necessário; que o amor não é eterno, como muitos pensam; que as pessoas são finitas, por isso, devemos ter a sabedoria de escolher quem realmente são nossos amigos, e aproveitar sua convivência da melhor forma possível, enquanto temos tempo; e que, mesmo quando uma pessoa nos deixa, por escolha própria ou porque chegou sua hora, dependendo da marca que ela fez em nossos corações, ela ficará para sempre com a gente, para bem ou para mal.

Aproveite a leitura de O PRIMEIRO E O ÚLTIMO VERÃO para avaliar suas próprias lembranças e, quem sabe, compreender aqueles sentimentos presos há tempos dentro de seu peito.


AUTORA: Letícia WIERZCHOWSKI
EDITORA: Globo
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 152


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