Embora seja um personagem antigo, criado nos anos de 1960 por Michael Moorcock, sinceramente, eu não conhecia Elric. Acho que já havia visto uma ou outra capa de um dos seus livros, e sabia que as histórias tinham sido adaptadas para os quadrinhos, mas nunca me interessei. Ele participou de um encontro com Conan em uma edição publicada em 1971, mas acho que nunca li. Ou se li, não lembro. De qualquer forma, a HQ da Mythos, cujo roteiro é do francês Julien Blondel, chamou-me a atenção e resolvi conferir.

Elric é um feiticeiro de pele branca, albino, imperador do reino de Melniboné, que vive doente e deprimido. Seu amor é a bela Cymoril, mas ela possui um primo, Yyrkoon, que anseia por tomar o trono de Elric. A trama do compilado da Mythos se resume em apresentar uma tentativa de inssurrreição por parte de Yyrkoon, enquanto Elric precisa salvar Cymoril da morte e lidar com as interferências dos deuses, que são vários e tentam fazer de Elric um peão das suas vontades.

Como eu nunca li nenhum livro de Elric, vou me basear apenas nesta HQ. E por ela, existem vários problemas que tornam ELRIC uma história bem ruim. A primeira e mais importante delas, é que quando se cria um anti-herói, é necessário dar algo a ele que, apesar de suas atitudes dúbias, consiga identificá-lo como herói e, consequentemente, abrir um vínculo com o leitor. Mas isso não acontece com Elric, porque ele não possui nada que consiga criar uma identificação, a menos que seja com um assassino frio, indiferente, depressivo, fraco e bastante burro. Sim, Elric é tudo isso.

Elric é manipulado pelos deuses, por Cymoril, por Yyrkoon. Ele é o imperador, o maior guerreiro de todos, mas vive doente, reclama pelos cantos, totalmente deprimido por quase toda a história da HQ. Ele não tem qualquer consideração pelos seres humanos mortais, e em algumas partes, nem pelo seu povo. Em um trecho, ele sacrifica inocentes apenas por um capricho, e em outra parte, dizima uma vila inteira em nome de um deus que ele mesmo não aceita. Em resumo, não existe qualquer qualidade que possa ser identificada, o que o torna um vilão antipático.

Um segundo problema, são os diálogos. Não sei dizer se é da tradução, ou se o original é assim mesmo, mas quase todos eles, bem como a narração, são dramáticos ao extremo, até mesmo em uma conversa casual ou entre amantes. Tudo é sempre urgente, tudo é sempre perigoso, tudo é sempre desesperador, tudo é sempre demais. E essa narração, combinada com os desenhos de mulheres nuas sendo torturadas, corpos esquartejados, cabeças espetadas em lanças, sangue para todos os lados, tudo sem um real sentido, apenas por maldade, fez com que eu me sentisse cansado já na metade da história.

Lá para o fim, aparece a famosa espada Stormbringer, ou Tormentífera, que faz exatamente o mesmo que os outros personagens: manipula Elric e o obriga a fazer o que ele não quer. E lá vai ele ficar deprimido e maldizer a sorte de novo. Enfim, nesse ponto, sinceramente, só queria que a história terminasse mesmo, então nem liguei.

Quanto à arte, ela segue a grandiloquência da narração. Embora belíssimos, os desenhos exibem estruturas gigantescas e desproporcionais sem uma lógica que justifique. Mas isso não os torna feios. Os traços são retos, esticados, rabiscados, muito bem coloridos, e as expressões dos personagens são bem desenhadas e conseguem passar o que eles sentem. Algumas páginas ficariam bem como quadros de tão belas. O tamanho da edição, gigante, capa dura e papel de qualidade, ajuda na beleza da obra. Também temos algumas páginas mostrando como foi a construção das páginas e desenhor, além de uma pequena galeria de capas.

ELRIC é um personagem atormentado pela própria estupidez, que não conquista como herói, não convence como vilão e decepciona como imperador. Tudo é dramático demais, o que acaba não convencendo, como aqueles filmes com atores canastrões. Acredito que os livros sejam melhores, mesmo porque foram escritos pelo verdadeiro autor. Quem sabe, um dia, crio coragem para ler algum.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Julien BLONDEL é um autor francês de RPG, jornalista e escritor de quadrinhos. Apresentador de rádio aos 14 anos, tornou-se DJ e estudou literatura. Em 1994, ele começou a escrever roteiros e notícias. Ele colaborou com vários jornais, incluindo a revista Casus Belli e mudou-se para Paris, onde se tornou editor da revista Backstab.
TRADUÇÃO: Octavio ARAGÃO e Helcio de CARVALHO
EDITORA: Mythos
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 124


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