Após o surgimento dos prodígios, e motivado por isso, a sociedade entrou em colapso. Não havia ordem, nem leis ou justiça. Eles se denominavam Anarquistas e seu reinado durou até o surgimento de um outro grupo de prodígios que se uniu para trazer paz ao mundo, os RENEGADOS. Agora com a justiça de volta, as pessoas podem viver suas vidas normalmente, sem medo, e com heróis a quem admirar e com quem contar. Mas ainda existem alguns prodígios remanescentes dos Anarquistas que insistem em tentar retomar o poder.

Nova era filha de um desses prodígios, que foi assassinado na sua frente, quando ela ainda era uma criança. Ela culpa os Renegados por não cumprirem a promessa de salvar todos. Não salvaram seu pai. Por conta disso, Nova cresceu órfã, entre os Anarquistas, com um desejo crescente de vingança. Ela quer mostrar ao mundo que os Renegados não são assim tão bons e que é mentira que eles se importam com todos. Poderosa, ela consegue criar pesadelos nas mentes das pessoas, a ponto de perderem a consciência ou mesmo morrer. Por isso mesmo, seu codinome é Pesadelo.

Adrian é filho dos dois mais famosos e poderosos Renegados, ele mesmo é um prodígio, mas seu poder não ajuda muito nas batalhas. Ele pode dar forma e função a desenhos. Ou seja, por exemplo, se ele desenhar uma arma, ela cria matéria e o desenho vira uma arma real e funcional. Secretamente, Adrian cria uma armadura que consegue simular a maioria dos poderes dos prodígios, como raios de energia, voar, força ampliada, entre outros. Deu a si o nome de Sentinela. Mas como pensa que será proibido pelos pais de usar algo tão poderoso e perigoso, ele não revela que está por trás desse novo herói.

Durante uma parada de comemoração, onde os principais heróis estão presentes, Pesadelo tenta matar o mais famoso deles, mas é impedida pelo Sentinela. Ela escapa, mas essa investida, cria uma sequência de eventos que colocar os dois grupos, heróis e vilões, novamente uns contra os outros. No meio disso, Nova e Adrian criam uma amizade, sem conhecerem suas identidades de prodígios, ou seja, sem saberem que são inimigos.

Eu já li a outra série da autora, CRÔNICAS LUNARES, e nesta nova aventura, a narrativa é bastante diferente, mais juvenil, ingênua, apesar de existirem mortes e decisões dúbias de caráter. Mas os diálogos e o comportamento dos personagens são mais cartunescos, mais parecidos com aquelas HQs da Era de Ouro, antes das versões sombrias dos atuais super-heróis. E tudo na narrativa é voltado para esse estilos de histórias, só que sem desenhos, apenas prosa.

Mas transformar algo que seria normal em HQs para um livro em prosa não é tarefa fácil. Marissa Meyer se esforça para conseguir dar clareza às batalhas, aos movimentos dos personagens nessas batalhas, aos poderes que eles usam, aos confrontos de diálogos, e consegue de forma eficiente. Entretanto, o mesmo não se pode dizer para a dinâmica, para a agilidade.

Existem cerca de cinco confrontos em todo o livro e são muito bons, nada de exagero, eficientes. Mas se juntar todas as páginas desses confrontos, não deve somar mais de 50 páginas. Todo o restante é composto por explicações demasiado longas, conversas que não avançam a trama e não possuem uma real função. Ou seja, quase todas as outras 450 páginas, poderiam facilmente ser reduzidas a metade, pelo menos. E isso acaba por comprometer um pouco a apreciação do livro.

Eu tive a nítida sensação de que Marissa Meyer de divertiu imensamente enquanto escrevia RENEGADOS. Essas tais páginas e páginas de conteúdo são de conversas sobre os personagens, sobre o que eles gostam, o que eles pensam uns dos outros, o que pensam dos inimigos, planejando ataques e defesas, e eu senti que a autora escreveu tudo isso com gosto, ela queria passar ao leitor o quanto seus personagens são legais. Mas realmente não sei se isso será compreendido e compartilhado. Como amante de quadrinhos, leio muito mais que livros, e já folheava revistas antes mesmo de aprender a ler, eu consegui me divertir lendo RENEGADOS, foi realmente prazeroso, só não sei se será assim para todos.

Quanto ao casal principal, Adrian é apaixonante e muito carismático. Seu inabalável senso de justiça, junto com sua ingenuidade, fazem dele o melhor personagem do livro, ao mesmo tempo que rendem momentos cómicos por ele ser tão bobo diante de personagens mais maldosos. Ele é adorável. O mesmo não se pode dizer de Nova. Eu tentei gostar dela, mas não consegui ser convencido pelos motivos de sua vingança. Ela, como personagem, parece ter sido construída para ser alguém que vai se redimindo durante a jornada, mas todas as motivações que a impulsionam para o lado errado, são fracas. Por isso, as decisões que ela toma, soam forçadas, sem propósito, com a única finalidade de criar algum conflito e fazer a história andar.

RENEGADOS é um livro que consegue simular uma HQ em prosa, com uma história divertida, embora mais longa do que o necessário, e que promete trazer muitas surpresas. Uma delas acontece no clímax e promete criar muitos problemas na sequência. Espero que Nova melhore na sua construção e que Adrian continue sendo o garoto apaixonante que se mostrou neste volume. E que a continuação venha logo!


AUTORA: Marissa MEYER
TRADUÇÃO: Regiane WINARSKI
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 512


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