Quando comecei a leitura de UMA MULHER NO ESCURO, imaginei que seria um livro pesado, mas com uma historia incrível, já que estamos falando de um assassinato de uma família. Porém, expectativas são diferentes de realidades.

No inicio do livro temos a morte dos pais e o irmão de Victoria, assassinados a facadas, em um relato dela ainda pequena, e digo a vocês que esse fato termina em aberto e não sabemos o motivo para o assassino não ter feito o mesmo com Victoria, ou pelo menos não fica claro o suficiente. Na verdade, o livro todo é cheio desses furos.

Há um pulo de tempo e acompanhamos Victoria já adulta e a sua “amizade” com Arroz. Amizade entre aspas, por quê? Simples, porque Victoria não quer detalhes da vida do rapaz que conheceu num fórum de The Sims, totalmente anônimo, e decidiu que valeria a pena se encontrar com ele, só colocando uma observação, sem detalhes ou explicações da vida dela para ele ou qualquer outra pessoa. Nem sequer o nome verdadeiro.

Aí vem o grande “quê” da historia: Victoria, ao conhecer Georges, um escritor que frequenta o local em que ela trabalha, ela decide simplesmente jogar tudo na cara dele em um primeiro encontro, porque ele reclamava muito da vida dele. A garota cheia de traumas que não se abriu para um amigo de quatro anos, conta seu maior segredo, que é a morte dos pais e a existência de um assassino,  para um desconhecido.

Não estou dizendo que ela não deveria, claro que deveria, mas isso teria que ser trabalhado na história, você entrega sua confiança a alguém que você conhece, não porque a pessoa tem reclamações demais sobre a vida dela. E ela trabalha a confiança até mesmo com seu próprio psicólogo, o Doutor Max, qual ela esconde boa parte do que ela pensa e faz.

Voltando ao foco principal, Victoria começa a receber recados do até então desaparecido Santiago, o assassino de seus pais, que saiu algum tempo atrás da prisão, e é obrigada a revirar o passado para descobrir o que ele quer. Passado também cheio de segredos que até mesmo a tia da garota esconde dela.

Aí digo a vocês que a historia se torna um grande buraco sem fundo, é uma situação desnecessária atrás da outra, é personagem que não tem importância aparecendo, é crime não resolvido, é morte desnecessária, nem Deus na causa. Um acumulo de informações que o autor segura até as últimas paginas para transformar o final em algo tão grandioso que fica sem noção e sem sentido, até porque antes de ler o livro, você já imagina um motivo incrível para o assassino ter esperado 20 anos para matar a única sobrevivente da família Bravo, Victoria, e quando descobre quem foi, se pergunta como ele teve tantas chances e não cometeu o crime. Muito inaceitável.

A história tem uma base incrível, mas a falta de foco do autor a transformou em um livro de se apontar erros a cada capítulo. Se você se imagina capaz de gostar de um livro com tantas ideias e nenhuma organização, leia. Se não, já sabe. Não recomendo, não só pela historia, mas também por ter brincado com os traumas reais de forma superficial e irresponsável, como estupro, abuso, assédio e depressão, tudo em detrimento de um mistério inverossímil. Assim, acredito que não tenha havido pesquisa alguma sobre o assunto para a construção do mesmo, ou sequer um pouco de raciocínio lógico para tapar tantos buracos que o livro tem.


AVALIAÇAO:


AUTOR: Raphael MONTES nasceu em 1990, no Rio de Janeiro. Advogado e escritor, publicou contos em diversas antologias de mistério, inclusive na Playboy e na prestigiada revista americana Ellery Queen Mystery Magazine. Suicidas (Saraiva), romance de estreia do autor, foi finalista do prêmio Benvirá de Literatura 2010, do prêmio Machado de Assis 2012 da Biblioteca Nacional e do prêmio São Paulo de Literatura 2013.
EDITORA: Companhia das Letras
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 256


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