O que você sabe sobre a lenda do quebra-nozes? É um brinquedo, aparentemente quebra-nozes mesmo, já foi adaptado várias vezes em produções flopadas e até já teve um filme de animação protagonizado pela Barbie. Agora, chegou a vez da poderosa Disney contar sua versão dessa fábula que, automaticamente, remete ao Natal e à importância da família. Resta saber se vale o nosso tempo, vamos descobrir!

Clara é uma menina sonhadora que ama mexer com engrenagens, adora criar coisas que vão facilitar a vida de todos. Seu relacionamento com familiares fica conturbado depois do falecimento repentino de sua mãe. É a época de Natal, e Clara, junto com sua família, vai para o baile patrocinado pelo inventor mais rico da região. Mesmo passando por um momento horrível, o pai de Clara deseja que todos estejam impecáveis e respeitáveis para manter as aparências. Sendo essa a última coisa que Clara quer fazer, a menina parte à caça do seu presente, que está escondido em algum lugar na mansão do inventor. Todas as crianças estão nessa busca, porém o presente de Clara, leva a menina para um reino distante, onde sua mãe é a rainha, e que atualmente está em guerra. Querendo achar seu presente e a última mensagem de sua mãe, Clara entra nesse mundo fabuloso e misterioso.

O resumo acima pode ter parecido nada demais, porém a trama consegue se superar num mar de pontas soltas. A produção é uma grande mistura de A BELA E A FERA, AS CRÔNICAS DE NÁRNIA e ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, bata tudo isso no liquidificador e terá um QUEBRA-NOZES E OS QUATRO REINOS. O roteiro consegue, de maneira convincente, apresentar a jovem protagonista. Ela é inventora, está triste e busca respostas sobre sua mãe, que se foi jovem e acabou não passando muito tempo com os filhos. Agora quem era a mãe e o porquê ela morreu, o filme não sente a necessidade de nos dizer. Decisão um tanto problemática, já que tudo gira em torno dessa mulher morta, e o público só fica se questionando quem é essa mulher que tanto eles falam?

E a trama continua fazendo a protagonista andar numa caverna e entrar nesse reino enorme e gelado. Não temos nenhuma explicação sobre a origem do reino, nem se ele é imaginário ou real. Ele é dividido em quatro regiões, e uma deles se rebelou e está em guerra. Essa guerra é uma das coisas mais triviais possíveis e em nenhum momento é aprofundada, não sabemos quem começou, nem objetivos e nem o que conquistariam com uma possível vitória. Só nos é informado que a protagonista precisa resolver tudo, pegando uma chave que está em poder de um rato. Uma narrativa que não avança, e o filme erra completamente ao apresentar esses novos reinos para o espectador. Não temos detalhes e aprofundamentos, o que temos é uma rápida sequência, onde a protagonista visita tais lugares em questão de segundos. O texto caminha para uma reviravolta bem sem graça e que, novamente, leva a trama para o buraco, deixando o filme ainda mais sem nexo e sentido.

O que temos de bom nesse roteiro? Clara, a protagonista, se destaca muito, vivendo uma jovem inteligente e melancólica. O ótimo desempenho da atriz Mackenzie Foy ajuda muito a dar valor ao filme. A atriz que é conhecida por ser a filha de Bella e Edward na saga CREPÚSCULO, já provou seu talento na ficção INTERESTELAR e agora mostra que consegue se destacar também no papel de uma protagonista corajosa e carismática. Além de que sua personagem é um bom exemplo para as meninas ao mostrar que elas podem se salvar sozinhas sem precisar de um homem para lhe prestar auxílio. A britânica Keira Knightley, uma das melhores atrizes em atividade, infelizmente vive uma personagem fraca e mal resolvida. Seu talento foi desperdiçado e, no final, tanto seu desempenho, como sua personagem, são bem irritantes. Os ganhadores do Oscar, Morgan Freeman, e Helen Mirren, estão fazendo figuração de luxo. De novo, ambos têm personagens mal escritos e inseridos na trama de maneira porca. Com desenvolvimento nulo e pouco tempo de cena, tiveram seu talento desperdiçado.

Uma coisa que não pode faltar em o Quebra-Nozes é balé, já que originalmente ele foi um espetáculo russo de dança, e o filme falha em inserir isso na produção. Simplesmente, na hora de uma explicação, aparece uma bailaria fazendo seu número musical, mesmo que a moça dance perfeitamente bem e que toda a cena seja um espetáculo visual, ela é totalmente jogada no meio do filme, sem fazer ligação com o resto da trama. Nos créditos finais, temos novamente uma sequência de dança belíssima, que não tem nada a ver com o filme, porém encanta. A trilha sonora está carregada com as canções clássicas do balé russo, e só pela melodia, eu tenho certeza de que você vai se lembrar de ter ouvido tais canções em algum lugar.

Tecnicamente o filme é extraordinário, uma viagem belíssima dentro de um sonho. Os figurinos são de tirar o fôlego, a direção de arte irretocável e os efeitos visuais só melhoram tudo. A produção entrega um visual ainda mais bonito do que o espetáculo que tivemos ano passado com A BELA E A FERA.

O filme tem um início tão bonito e interessante que fico até triste com o declínio da produção no segundo e terceiro atos. Para assistir no cinema, vale muito a pena, graças à excelente parte visual e a todo o tom natalino que é transportado com muita competência para o espectador. Mas a trama é ruim, mal escrita e estruturada, vai testar bastante sua paciência. Porém, a forte protagonista e a trilha sonora apaixonante, vão fazer a experiência não ser uma total perda de tempo.


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: Lasse HALLSTROM e Joe JOHNSTON
DISTRIBUIÇÃO: Disney
DURAÇÃO: 1 hora e 39 minutos
ELENCO: Mackenzie FOY, Keira KNIGHTLEY, Matthew MACFADYEN, Morgan FREEMAN e Helen MIRREN