O livro O SILÊNCIO DA CIDADE BRANCA é o primeiro de uma trilogia de romance policial que inspirou o filme homônimo da Netflix. A história é narrada por Unai, um investigador policial especialista na análise de perfis de criminosos que atua em parceria com Estíbaliz na delegacia da cidade. Tudo começa com um crime: dois corpos nus posicionados de forma milimétricamente calculada, um com a mão sobre o rosto do outro e três eguskilores em um local um tanto inusitado, a antiga Catedral da cidade.

A princípio poderia ser entendido como um crime ocasional, mas o curioso é que ele remetia exatamente aos crimes cometidos 20 anos antes por Tasio, irmão gêmeo do antigo investigador da cidade, que seria solto algumas semanas depois desse incidente. Se era uma peça que alguém estava pregando, ou se era o próprio assassino atuando novamente, ninguém sabia. Mas, se fosse a segunda opção, como o crime teria ocorrido se o assassino estava preso? De qualquer forma, o caos estava instalado na cidade.

Tudo piora quando o assassino atua novamente, bem debaixo do nariz dos investigadores, e a partir daí, a cada episódio novo, são traçadas novas semelhanças nos crimes, tanto entre si, quanto com os ocorridos anos antes na cidade. Os crimes são carregados de padrões e significados, desde a disposição dos corpos, até a idade das vítimas, a presença das flores ao redor e o local. Além disso, desde o início, a fixação que o assassino tem pelo tempo é nítida e marcante, porque a idade das vítimas segue um padrão, o momento dos crimes é calculado e até mesmo a data de construção dos locais que serviam de palco para o seu “show de horrores” era analisada.

A autora também traz outro paralelo cronológico para explicar detalhes, que sozinho o investigador não poderia saber, e que trazem a sensação cíclica dos eventos na cidade. Nesse paralelo, ela se concentra em contar a história antes da chegada dos gêmeos Tásio e Ignácio, os primeiros suspeitos de Unai. Posteriormente, o investigador chega a ter conhecimento desses eventos, mas a forma isolada que foram contadas permite que a história siga um fluxo que não deixa a leitura cansativa ou confusa.

Além disso, a autora também não deixa de salpicar o romance na história, que mesmo sendo um elemento secundário à investigação, não fica para trás. A nova subdelegada da cidade, Alba Salvatierra (também conhecida como Blanca nas horas vagas) conhece Unai (ou melhor, Ismael) em uma corrida matinal antes de serem propriamente apresentados. Ali é o clássico momento em que ambos estão mais livres e abertos do que em ambiente de trabalho e se permitem perceber as cicatrizes um do outro de forma mais pura e essencial. E nisso, uma mistura crescente de admiração, semelhanças e citações que ambos entendiam passa a alimentar o coração dos dois policiais, mas Alba era casada e Unai havia perdido a esposa recentemente.

Particularmente, acredito que alguns elementos da investigação de O SILÊNCIO DA CIDADE BRANCA poderiam ser deduzidos antes mesmo de serem contados, a depender do leitor. Mas todos os pontos foram muito coerentes e a sequência que eles foram colocados ficou harmônica no enredo. E cada mínimo detalhe foi bem trabalhado posteriormente, seguindo bastante aquele conceito de chaves que abrem outros baús que vão trazendo mais pistas essenciais no desenvolvimento da narrativa. Fechar esse livro foi um misto de dever cumprido que surpreendia pela sutileza que a autora teve ao trabalhar uma história complexa e arrepios pelos elementos que a compunham. Espero que quem tenha oportunidade, goste ou queira conhecer um pouco mais desse estilo de história. Reserve um momento para esse livro porque com certeza vale a pena!


AUTORA: Eva García Sáenz de URTURI
TRADUÇÃO: Cristina CAVALCANTI
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 416


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