Existem vários livros clássicos que todo mundo já ouviu falar, mas meio que não sabe muito bem sobre o que a trama aborda. Usando o meu próprio exemplo, eu cito a ODISSEIA, de Homero. Um livro/poema muito famoso que ganhou uma espécie de continuação, olhar aprofundado, pelas mãos da sensacional Margaret Atwood, a mesma do já clássico O CONTO DA AIA. A autora que sempre dá voz e poder para personagens femininas, faz isso novamente em A ODISSEIA DE PENÉLOPE. Uma personagem importante que não teve espaço para mostrar o seu ponto de vista. Parece complexo, mas é muito interessante. Chega mais que eu explico tudo!

Antes é importante avisar que não precisa ter lido o clássico ODISSEIA para ler este novo livro. A autora faz um excelente trabalho de contextualização e apresentação dos fatos, até porque o importante aqui é nos mostrar quem é essa tal de Penélope e desenvolver toda a sua história de vida, que consequentemente culmina no surto do marido desaparecido. Para essa trama, pouco importa as coisas que o marido dela fez nas viagens incríveis dele, então dá pra ler sem medo A ODISSEIA DE PENÉLOPE.

No livro clássico, ODISSEIA,  o marido de Penélope vai para uma guerra qualquer, luta com monstros, vive diversas aventuras, dorme com várias mulheres, tudo isso num intervalo de vinte anos. E quando volta para casa e para Penélope, ele vai e mata doze de suas criadas e mata todos os pretendentes que queriam se casar com Penélope, todos pensavam que ele tinha morrido, então porque não seguir com a vida, né? E o livro clássico acaba assim, ele mata esse tanto de pessoas e a gente não faz ideias por que raios ele fez isso e nem o que se passa na cabeça de Penélope, peça central desse surto.

E chegando para resolver esse problema, temos Margaret Atwood e seu livro A ODISSEIA DE PENÉLOPE, e em menos de cento e cinquenta páginas, a autora faz mágica, resolve uma tonelada de enigmas e nos apresenta uma personagem interessantíssima. Penélope, como várias mulheres na antiguidade, foi prometida/vendida para casamento e seu marido a levou para um lugar distante e diferente. Conviveram por pouquíssimo tempo, já que ele foi embora. Tiveram um filho, e no período em que ele não estava, foi graças a Penélope que o reino se manteve próspero e não caiu no caos, mas será que alguém dá o devido valor para isso?

A linguagem do livro é muito acessível e atual, ele é narrado por uma Penélope já morta há muitos séculos, repensando a sua vida e jornada. Tudo com direito a muito humor e carisma. Lembra bastante as narrações presentes da serie de TV DESPERATE HOUSEWIVES no quesito de satirizar um pouco o trágico. E conforme a trama avança, o leitor entende quem é Penélope e de onde ela veio. Sua relação familiar antes do casamento também é abordada e os capítulos são bizarros e ao mesmo tempo carregados no humor. E entre os capítulos de Penélope, temos um pouco de conteúdo das pobre doze criadas que foram mortas por nada. Elas nos mostram os seus sentimentos e queixas em forma de poemas e canções. Parece que elas estão estrelando um musical sobre tudo o que aconteceu. E mesmo as coisas que elas passaram serem horríveis, o livro traz junto mensagens interessantes, afinal, nada aqui é gratuito, muito menos o humor.

E tudo que o livro promete, ele faz; explica mesmo o porquê desse surto e claro que ele vem carregado de mensagens importantes que explicam o porquê da autora querer ressuscitar essa trama. As mulheres sempre, durante a história, foram desvalorizadas e inferiorizadas, além dos homens acharem que elas são suas propriedades. Então já que eu sou dono, eu posso fazer o que eu quiser, né? Por incrível que pareça, a mensagem é atual e muito significativa, ela vem como uma espécie de tribunal no final do livro, onde as criadas assassinadas, meio que estão processando o homem que as matou, visto como heróis por muitos. É uma sacada muito inteligente e se assemelha muito com tudo o que foi construído no decorrer do livro. Uma reimaginação de uma trama antiga, vista por um outro lado e com um propósito claro. Um livro pequeno que não merece passar despercebido. E ai, deu vontade de ler?


AUTORA: Margaret ATWOOD
TRADUÇÃO: Celso NOGUEIRA
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 125


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