O Martelo Maldoso das Bruxas & sua seita, revele os esmagamentos mais poderosos, numa tradução direta do latim de “Malleus Maleficarum Maleficat & earum haeresim, ut framea potentissima conterens”, é um livro escrito pelos dominicanos Heinrich Kraemer e James Sprenger, na Alemanha, entre 1486 e 1487. A Ordem dos Dominicanos foi fundada em 1216 e tinha como objetivo a pregação da palavra e mensagem de Jesus Cristo e a conversão ao cristianismo. Kraemer e Sprenger escreveram o livro em cumprimento a uma lei eclesiástica, passada pelo Papa Inocêncio VIII, a Summis Desiderantis Affectibus, que tratava a feitiçaria e heresia, dando poderes a Kraemer para tratar e processar bruxas na Alemanha.

O MARTELO DAS FEITICEIRAS é a tradução completa desse livro de Kraemer e Sprenger, e ele é considerado o manual mais cruél do período negro da Idade Média, ensinando sobre ódio, tortura e morte. Oficialmente, o livro nunca foi aceito pela Igreja, apesar dos poderes dados por esta aos inquisidores, que posteriormente foram excomungados pelos seus atos.

Nas palavras dos dois inquisidores, era dado exclusivamente às mulheres a culpa sobre atos de feitiçaria e bruxaria, porque eram fracas e passíveis às ciladas do diabo. Como explica a introdução de O MARTELO DAS FEITICEIRAS, “na verdade, o maior incentivo ao medo desses homens, era a mudança do papel feminino na sociedade. Desde sempre, as mulheres eram vistas como as curadoras populares, as parteiras, um saber que era transmitido de geração para geração”.

Ainda mais na frente, “elas vieram a representar uma ameaça. Em primeiro lugar, ao poder médico, que vinha tomando corpo através das universidades no interior do sistema feudal. Em segundo, porque organizaram comunidades pontuais que, ao se juntarem, formavam vastas confrarias, as quais trocavam entre si segredos da cura do corpo e muitas vezes da alma. Mais tarde, ainda, essas mulheres vieram a participar das revoltas camponesas que precederam a centralização dos feudos, os quais, posteriormente, dariam origem às futuras nações”.

A religião católica e a protestante centralizaram o poder e criaram os tribunais inquisidores, que através de juízes dotados de poderes totais, correram por toda a Europa torturando e assassinando as mulheres que detinham conhecimento proibido ao gênero, assim consideradas bruxas e queimadas em fogueiras. Politicamente, o objetivo era recolocar a plebe, os camponeses, submetidos a seus senhores feudais. Principalmente as mulheres.

O MARTELO DAS FEITICEIRAS é dividido em três partes. A primeira trata das três condições necessárias para a bruxaria; a segunda, trata dos métodos pelos quais se infligem os malefícios e de que modo podem ser curados; e a terceira, trata das medidas judiciais no tribunal eclesiástico e no civil a serem tomadas contra as bruxas e também contra todos os hereges. Essa última parte contém trinta e cinco questões nas quais são definidas as normas para a instauração dos processos e onde são explicados os modos pelos quais devem ser conduzidos, e os métodos para lavrar as sentenças.

Pelo parágrafo acima, não é possível sequer imaginar a barbárie que cada uma das partes expõe, os absurdos de flagelos que eram cometidos legalmente contra as mulheres, os níveis de tortura e mortes. A leitura é extensa, detalhada, e é muito difícil de concluir. Eu precisei pular diversas partes, porque simplesmente não conseguia prosseguir. Não é um livro para ser lido de forma contínua, mas em partes, como um documento histórico do quanto o homem pode descer a níveis de crueldade que ultrapassam qualquer traço de humanidade, e como isso foi aceito durante séculos, apenas pelo medo e pela imposição religiosa.

O MARTELO DAS FEITICEIRAS é uma leitura para quem deseja estudar um período histórico nefasto, algo que a maioria pensa que não seria possível existir, ou então que é apenas ficção, parte de filmes de terror ou exageros vindos de lendas e contos para assustar. Não é. Na verdade, o pior dos filmes de terror, sequer chega perto da realidade apresentada no livro.

A edição tem uma contextualização histórica escrita por Rose Marie Muraro, patrona do feminismo brasileiro, e é fundamental sua leitura para compreender as motivações por trás dessa perseguição. Toda a tradução está excelente, perfeitamente adaptada aos dias de hoje, o que torna a leitura muito fácil. Uma produção excelente da editora.


AUTORES: Heinrich KRAMER e James SPRENGER
TRADUÇÃO: Paulo FROÉS
EDITORA: Rosa dos Tempos
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 695


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