Cientista influente e aclamado em todo o mundo, Neil deGrasse Tyson é diretor do Planetário Hayden, no Museu Americano de História Natural, em Nova York, além de apresentador da série de TV Cosmos, da NatGeo, e do programa StarTalk Radio. Numa vida dedicada a desvendar e explicar os mistérios do universo, ele atraiu, no decorrer de sua carreira, uma das maiores comunidades on-line do planeta com suas fascinantes ideias amplamente acessíveis sobre ciência e sobre o nosso universo. Por causa disso, todo ano, Neil deGrasse Tyson recebe milhares de e-mails e cartas. Algumas mensagens buscam conselhos, outras, inspiração; algumas são movidas por angústia, outras, por deslumbramento. Mas todas, sem exceção, estão à procura de entendimentos, significados e verdades.

RESPOSTAS DE UM ASTROFÍSICO abre exatamente com uma carta, mas não uma recebido por Tyson, e, sim, escrita por ele para os leitores brasileiros. Embora a carta comece com Tyson citando os principais aspectos pelos quais o Brasil é conhecido no mundo, como o futebol, o café, a Amazônia, algo que até virou clichê, pelo menos para nós, do meio do texto em diante, Tyson parte para uma crítica muito bem disfarçada em elogio.

Tyson cita que metade dos aviões usados em voos domésticos nos EUA, são de fabricação da Embraer, mas quase ninguém sabe disso. O contrário do que acontece na Alemanha, por exemplo, que se gaba de sua tecnologia na aviação. Também menciona que o Brasil é líder em tecnologias de biocombustíveis, uma ambiciosa agência espacial, que está em sexto lugar no mundo, e líder em Tecnologia de Informação na América Latina. Mas, também, a maioria das pessoas não sabe disso.

Ele finaliza com a informação, essa amplamente conhecida, mas ignorada, de que os países que se mantém no terceiro mundo, são países com baixos níveis de instrução e com ausência de investimentos e de presença na cultura de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). Investimento e distribuição desses conhecimentos, são o ponto inicial e crucial para qualquer o povo de qualquer país evoluir, e, por consequência, melhorar a própria vida.

Após essa carta, que claramente diz o quanto temos, atualmente, uma política que jamais conseguirá evoluir nosso povo e nosso país, pelo contrário, a cada dia afundamos ainda mais no buraco da ignorância e do atraso, o conteúdo é dividido em quatro partes principais, quatro temas que abordam diversas cartas e e-mails recebidos por Tyson ao longo dos últimos anos. São elas: “Éthos”, as características comuns a uma cultura, expressas em suas crenças e aspirações; “Cosmos”, o universo como um conjunto bem organizado; “Páthos”, um despertar melancólico de emoções que residem em nós; e “Kairós”, um momento propício para decisões ou ações. E não gaste tempo procurando o significado dessas palavras gregas, o significado resumido é o que escrevi na sequência de cada uma delas.

Cada uma dessas partes tem divisões em capítulos, e você irá encontrar perguntas de todos os tipos, das mais inteligentes, às mais estapafúrdias, como a carta em que uma pessoa pergunta pelos aspéctos legais e morais de se matar um alienígena visitante de dotado de uma inteligência maior do que nossa. A resposta de Tyson, obviamente, é carregada de ironia. Ele finaliza, escrevendo: “Se presumirmos que eles são mais inteligentes, comparados conosco, do que digamos, somos mais inteligentes quando comparados aos chimpanzés, então eles não nos temeriam mais do que nós tememos uma insurreição de macacos na selva.”.

No livro não estão apenas cartas de desconhecidos, mas de pessoas mais famosas, como da escritora Nzingha Shabaka, que questiona Tyson pelo uso do sobrenome do meio, deGrasse, que é francês. Ela considerava que isso demonstrava baixa autoestima na comunidade afro-americana. Tyson justifica o uso com uma frase de Shakespeare: “O que chamamos de rosa, com outro nome exalaria o mesmo perfume tão agradável.”. Nesse caso específico, mesmo não sendo meu lugar de fala, compreendo o questionamento de Shabaka. Ela não estava preocupada com a essência de Tyson, mas com o que o uso do nome francês por um afro-americano tão conhecido, poderia causar nos iguais, devido ao racismo e à luta sempre presente nos EUA. Ainda não vivemos em um mundo perfeito, onde não importa o nome que usamos. E não adianta tomar posicionamentos que seriam pertinentes apenas nesse mundo perfeito, mas que não o são hoje em dia. E ir contra isso, não é caminha em direção ao mundo perfeito.

Tem um capítulo inteiramente dedicado a mensagens de ódio recebidas por Tyson. Claro que, no mundo como o de hoje, ele deve receber dezenas, centenas de mensagens de ódio. Algumas são hilárias de tão idiotas, como a da pessoa que acusa o governo de ser socialista por cobrar impostos; outras engraçadas, como a de uma criança que não gostou de quando Plutão deixou de ser considerado um planeta, afinal ele era o preferido de muitas pessoas, e agora não poderia ser mais.

As cartas abrangem uma ampla gama de informações, de nós, das ciências, do universo, de nossos comportamentos, de nossas ideias, de nossos preconceitos e intolerâncias. Algumas possuem respostas engraçadas, outras mais sérias, mas todas são impregnadas de conhecimento. Não vale, pelo menos para mim, avaliar Tyson como pessoa nessas respostas, mas o quanto ele possui de conhecimento sobre o universo conhecido, e em como dependemos dele e em como somos pequenos diante dele.

RESPOSTAS DE UM ASTROFÍSICO é um livro que deve ser lido, independentemente do seu gênero preferido, não apenas pela curiosidade das cartas, mas, principalmente, pelas discussões que as respostas levantam. E aquele livro que pode ser deixado ao lado da sua cama, quando você abre e lê uma carta e uma resposta por dia. Fazendo isso, você terá a certeza de que evoluiu em conhecimento antes de dormir.


AUTOR: Neil deGrasse TYSON
TRADUÇÃO: Nicolas PETTENGILL
EDITORA: Record
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 272


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