Você sabe qual a verdade sobre o efeito borboleta? Nicola é um pesquisador e colecionador de borboletas que perdeu a memória. Durante sua recuperação, com a ajuda de uma psiquiatra, descobre que possui o poder de voltar ao passado e modificá-lo, e também que era apaixonado por uma garota chamada Joana, que aparece repetidas vezes em meio à suas confusas visões. Pior que uma lembrança morta, é uma lembrança que insiste em ressurgir. E Nicola terá que seguir o fio de suas vagas recordações para desvendar até que ponto alterou seu passado. Porém, este colecionador ainda não tem consciência do quanto o efeito borboleta pode ter afetado seu próprio destino
Segundo a Teoria do Caos, “o bater de asas de uma simples borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e, talvez, provocar um tufão do outro lado do mundo”. Essa premissa é usada na maioria das histórias de viagens no tempo ao passado. Não é diferente na obra de Cecília Mouta, O COLECIONADOR DE BORBOLETAS. Nicola, o personagem principal, está hospedado em uma casa de repouso para acompanhamento médico e psicológico a pedido de sua mãe. Algo aconteceu com ele, mas ele perdeu a memória e, de início, não sabemos exatamente o quê. A única pista que temos é sua fixação com borboletas. Nicola é tratado pela Dra. Liz, uma médica que se mostra mais interessada no paciente do que o normal. Aos poucos, através de ataques dolorosos de dor de cabeça, descobrimos que ele tem a habilidade de voltar no tempo, a qualquer ponto que se lembre, e modificar os eventos.
No filme A MÁQUINA DO TEMPO, de 2002, baseado na obra de mesmo nome de H.G. Wells, o personagem principal volta ao passado para salvar a vida de sua noiva. Aos poucos, descobre que por mais que faça, ela sempre acaba morrendo, só que de formas diferentes. Do mesmo jeito, Nicola usa sua habilidade para salvar o amor de sua vida, Joana. Os momentos em que ela corre perigo são marcados pela presença de uma borboleta verde, e nesses momentos, ela sempre morre.
Nicola precisa decidir então se persiste nas suas tentativas ou se preserva sua sanidade, uma vez que a cada alteração no passado, as pessoas ao redor são afetadas de forma diferente e, nem sempre, de uma maneira boa.
A narrativa de Mouta é intimista e opressiva. Ela consegue transmitir o desespero sentido por Nicola, e o leitor sente uma carga emocional pesada por conta disso. Por várias vezes, eu me senti abatido pelo fracasso das tentativas vãs de salvar Joana. E triste por acompanhar a queda do ânimo de Nicola por não conseguir descobrir uma forma de escapar da borboleta verde.
Não sei se concordo com a teoria de que o destino de uma pessoa está tão definido desde o início que é impossível modificá-lo. Acho que nosso futuro é a soma de nossas ações passadas, de nosso caráter, de nossas aspirações e decisões. O fato de salvar uma vida, não significa, obrigatoriamente, que ela será perdida mais à frente porque é assim que está escrito. O futuro não está escrito. Ele se modifica a cada segundo. Se fosse diferente, de que adiantaria o livre arbítrio? Seríamos apenas fantoches na mão de uma entidade maquiavélica. Pessoalmente, recuso-me a acreditar em tal fato.
Nicola pensa da mesma forma que eu e sua recusa em aceitar o inevitável, conquista o leitor e faz com que torçamos por ele. A presença constante de Liz e seu carinho por Nicola, deixa a dúvida se Joana realmente é a garota certa para o rapaz. Com o avanço da história, não sabia mais com quem deseja que ele ficasse.
O fim do livro é coerente e consegue ser bom o suficiente para o leitor se conformar e ficar satisfeito com o destino dos personagens principais. Isso não quer dizer que seu coração ficará livre daquele sentimento de que gostaria que as coisas fossem mais perfeitas, menos dolorosas. Mas a vida é assim. Nem sempre um final feliz pode ser totalmente feliz.
AUTORA: Cecília MOUTA
EDITORA: Novos Talentos
PUBLICAÇÃO: 2012
PÁGINAS: 255
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Isso de acreditar em tudo já traçado é complicado rs
Eu também acredito que por mais que tenhamos algumas sim, já em roteiro, tudo depende de nossas próprias escolhas, pensamentos e decisões.
Mas eu admito que adorei a proposta do livro, até por já de princípio, trazer essa reflexão.
Como não conhecia, se puder, já quero muito ler!!!
Beijo
É antigo este livro, acho que a autora não escreveu mais nada.
Ahh, li O colecionador de Borboletas em 2016 e posso dizer que nunca me canso de indicar este livro para outras pessoas. Mesmo após tantos anos, ainda consigo me lembrar vividamente dos sentimentos conflitantes e angustiantes que senti ao ler a obra. Tive a honra de receber o livro da própria Cecília, me encanta muito sua escrita envolvente e instigante; Em relação ao seu ponto de vista sobre um destino já pré definido, também prefiro acreditar que as coisas não são inegavelmente imutáveis, mesmo que em determinado momento algo pareça absoluto.
Eu também recebi da autora, tenho até o autógrafo dela 😉