Quem acompanha os filmes baseados em HQs com certeza conhece o infame ESQUADRÃO SUICIDA de 2016. O filme que tinha um dos melhores trailers daquele ano, um marketing extremamente empolgante e um elenco de peso, foi um fracasso gigantesco de crítica e de público. A bilheteria foi alta, mas, mesmo assim, tudo deu errado com o filme praticamente envelhecendo como leite no sol, sendo suicídio aprovar uma continuação direta, o papo agora era fazer tudo de novo. O reset da nova franquia veio e finalmente temos um filme definitivo sobre a equipe de vilões mais bizarra que o cinema já viu. Chega mais que te conto tudo!

Representando o governo americano, Amanda Waller dá início ao programa Esquadrão Suicida que consiste em reunir um grupo de pessoas com habilidades únicas para servirem de bucha de canhão em missões literalmente suicidas. Os membros desse grupo são ex-presidiários que aceitam participar de tal esquema visando diminuir suas penas. O problema é que essas pessoas são vilões, muitos deles com habilidades especiais altamente perigosas. Soltá-los de volta na sociedade só é possível pois cada um deles carrega dentro de seus corpos uma bomba que irá ser detonada ao menor sinal de ordem não seguida. Tendo os seus soldados na coleira, Amanda os envia para Corto Maltese, pequena ilha na América do Sul que acabou de sofrer um golpe militar violento. Os Estados Unidos não ligam para a estabilidade do país, querem apenas destruir em específico uma fortaleza no país onde eram feitos testes secretos que não podem cair em mãos erradas.

A trama base é bem parecida com a versão horrível de 2016. Vilões usados em missões suicidas, mas a grande diferença que faz essa nova versão ser competente é o total controle criativo nas mãos do diretor, o próprio James Gunn. Polêmico por si só, Gunn é o mesmo responsável por um outro filme de equipe amado pelo público e sucesso em qualquer esquina, GUARDIÕES DA GALÁXIA. O diretor que tem seu estilo próprio de investir no surreal e não construir arcos em seus filmes, traz tudo isso para o seu novo trabalho que é rico em identidade e carisma. O longa já começa com a missão que acompanharemos, a apresentação dos personagens é aleatória e muito bem distribuída, todos tem o seu momento para bilhar e se apresentar. São personagens extremamente peculiares e que são incrivelmente diferentes entre si. O subtexto da hipocrisia presente no personagem Pacificador é algo que vira piada dentro do próprio filme, como alguém que ama a paz e a ordem vive tanto a base da violência, uma crítica direta ao governo americano. Mas a crítica aqui não é uma canetada esnobe, é uma piada tão boa e bizarra que qualquer um consegue entender.

E para muitos, a Caça-Ratos 2 segue sendo a melhor personagem do filme, a jovem que tem a habilidade de controlar ratos é carisma em pessoa. A gente vai aos poucos conhecendo essa persona e se apaixonando também. Mais uma personagem poderosa com um subtexto sensacional, dando luz dessa vez a pessoas humildes e sem oportunidades, como os moradores de rua. A relação da personagem com o pai é muito emocionante, com direto a uma frase lindíssima sobre o porque um pai ensinaria a sua própria filha uma habilidade de controlar ratos, assim ele diz: “O rato é a criatura mais humilde e desprezada do mundo, se até ele tem um propósito, qualquer um pode ter também.”

Em paralelo à controladora de ratos, temos o Sanguinário, um especialista em transformar qualquer coisa numa arma mortal. Ele é um pai ausente que diz não se importar com a própria filha, mas o crescimento desse personagem segue surpreendendo até o final do filme. Além de se provar, ele consegue ser o exemplo que tanto a sua filha necessitava, além é claro de construir uma identificação sensacional com outro membro da equipe. E o que dizer do Homem Bolinha que tem um poder bizarro e um trauma enorme, a libertação interna do personagem é muito incrível e hilária. Outro que é bizarro se chama Nanaue, literalmente um tubarão humanoide perigoso, violento, sem amigos e extremamente fofo. E acredite se quiser, ele não é só um alívio cômico.

E a cereja do bolo se chama Arlequina, tal personagem que caiu no gosto popular de uma forma tão sólida que é praticamente impossível achar alguém que fique indiferente com sua presença. Ela está aqui para entregar cenas lendárias, atuação, beleza, força e carisma, tudo o que lhe foi negado na versão pavorosa de cinco anos atrás. A união de todos esses personagens excêntricos com vários outros gera um filme extremamente ágil, bem dosado, engraçado, extremamente violento e nada apelativo. Tudo é belíssimo visualmente e a qualidade se expande para os figurinos sensacionais, efeitos visuais realistas e engenhosos, além é claro de um trabalho de maquiagem de extrema qualidade em diversos personagens.

E toda essa beleza, casada com isso tudo de desenvolvimento de personagem, se fecham com uma trama geral muito bem bolada, com cada fase da missão sendo mais interessante que a anterior. Tudo tem um propósito e nada é gratuito, o filme investe tempo até mesmo para trabalhar em conflitos internos dentro do comando dessa missão suicida. Uma produção completa, de bom gosto, planejada com carinho para ser única, não apenas uma cópia de algum filme similar que fez sucesso recentemente. Já é um dos melhores filmes do ano e seguimos aqui torcendo para que a sequência seja anunciada logo.

OBS: E para quem já viu o filme, eu deixo aqui o meu apelo, me ajudem na divulgação de um abaixo-assinado pedindo que a Warner faça um filme ou uma série solo do Doninha, essa lenda precisa de mais destaque.


DIREÇÃO: James GUNN
DISTRIBUIÇÃO: Warner
DURAÇÃO: 2 horas e 13 minutos




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