Rio de Janeiro, 2019: Romeu está prestes a dar o seu primeiro beijo! Entre estantes e mais estantes de livros na biblioteca da escola, o mundo, para ele, começou a adquirir uma velocidade diferente. Ele está quase lá… até que não está mais. Seu quase primeiro beijo escapa antes mesmo de se tornar realidade quando subitamente, à força, é arrancado do armário para o colégio inteiro. Agora, tudo parece correr rápido demais. Mas, para amenizar os obstáculos do mundo lá fora, Romeu tem ao seu lado uma verdadeira rede de apoio na forma de uma trupe implacável, a começar pela sua companheira inseparável, a divertidíssima Julinha, sua melhor amiga, e, claro, seus pais coruja Tim e Samuca.

É então que, ainda tentando entender o que aconteceu na escola, outra surpresa desagradável: o livro de seu pai, com lançamento previsto para o dia seguinte na concorrida Bienal do Livro, acaba de ser censurado por ninguém mais, ninguém menos do que o prefeito da cidade.

A introdução de O PRIMEIRO BEIJO DE ROMEU descreve que depois de um significativo acréscimo de estima social em relação à comunidade hoje chamada de LGBTQIA+ do Brasil e de autoestima entre seus membros em decorrência das conquistas de alguns direitos civis e da ampliação da visibilidade positiva em meios de comunicação, incluindo aí a representação de um beijo gay numa telenovela do horário nobre da televisão.

Depois destes passos para a frente, gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans brasileiras e brasileiros se viram, uma vez mais, ameaçados pela sombra da homofobia institucional: um prefeito evangélico neopentecostal e fundamentalista cristão do Rio de Janeiro, uma das maiores cidades do país, decide não só censurar uma HQ que representava um beijo gay entre dois super-heróis, como também proibir conteúdos com personagens LGBTQIA+ na Bienal do livro.

A intolerância do prefeito chocou os organizadores do evento e a parte democrática da opinião pública, que decidiu reagir imediatamente. Testemunha ocular destes acontecimentos, o escritor, roteirista, ator e diretor Felipe Cabral, esteve entre os que reagiram de forma veemente contra a decisão do prefeito, impedido por corrupção tempos depois. O PRIMEIRO BEIJO DE ROMEU é um fruto dessa reação por parte do escritor.

A narrativa tem capítulos alternados em primeira pessoa por Romeu e por seu pai, Tim. É um tremendo acerto, uma vez que vemos as duas mais fortes formas de amor que existem: o amor adolescente pelo objeto de afeto, que queima, que anseia, que torna tudo nublado e sofrido. E o amor de pai, incondicional, protetor, que abre mão de tudo, que é capaz de qualquer sacrifício para a felicidade do filho. Esses dois amores permeiam todas as páginas do livro.

O que ocorreu em 2019 é algo absurdo, impensável. É uma volta à idade das trevas da ditadura. Felizmente, a maioria das pessoas ainda mantém o respeito e a racionalidade para distinguir o que é correto. O prefeito do Rio de Janeiro não conseguiu seu intento, pelo menos na questão da censura. Entretanto, como ele mesmo disse dias depois, o que ele queria mesmo era chamar a atenção dos eleitores que pensam como ela para a eleição que aconteceria no ano seguinte. Felizmente, ele foi afastado por corrupção e nem chegou perto de ganhar nada, a não ser uma vaga na prisão.

Os personagens são adoráveis, o enredo é simples, cheio de empatia, respeito e diversidade. O amor é amor e possui diversas formas, não importa qual, apenas a intensidade e a fidelidade, a confiança. O PRIMEIRO BEIJO DE ROMEU é uma leitura deliciosa, rápida, divertida e importante.

Uma adendo inserido pelo autor, são os títulos de 101 obras LGBTQIA+ entre os capítulos, disfarçadas no meio das descrições, dos diálogos, e você terá a curiosidade de voltar atrás e tentar descobrir cada uma delas.


AUTOR: Felipe Cabral
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 434


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