Os tiroteios em escolas são uma triste realidade nos dias atuais e será o tema central do livro AREIA MOVEDIÇA, que acompanha Maja, uma jovem que está presa, acusada de ser cumplicie e também mandante de uma série de assassinatos, entre eles um dentro da escola que a própria estudava.

A trama se inicia com a jovem já presa e é o ponto de vista dela que temos. Não é fácil entender de primeira o que está acontecendo, temos o dia-a-dia de uma jovem mulher num presídio, memórias perturbadas e um nome, Sebastian. Sebastian é o nome do rapaz que também participou dos assassinatos, ele matou mais gente e já está morto. Sobrou para Maja a carga de assumir todas as consequências desse dia infernal dentro da escola. Mas os fatos são nebulosos e não fica claro se a jovem é ou não é realmente culpada de ter participado do massacre. O livro caminha por lembranças e por todos os tramites que consistem em uma defesa judicial, já que Maja atualmente luta pela sua liberdade.

As primeiras cem páginas do livro são reservadas para entendermos quem é essa Maja, e a trama constrói a personagem de maneira muito talentosa, ao mesmo tempo em que nos leva para a cadeia de acontecimentos que culminaram no massacre. É de extrema importância entender quem é Sebastian, o assassino já falecido e ex-namorado de Maja. Menino branco, rico, maltratado pelos pais, dono de uma vida desenfreada à base de drogas e bebidas alcoólicas e o grande amor de Maja. O relacionamento é o pivô de tudo e essa relação recebe grande foco na leitura, deixando assim todas as motivações dos personagens muito claras, quem fez o quê e o que levou ao massacre.

Mas o menino já não era meio perturbado? Receita pronta para um psicopata em potencial, então o que Maja tem a ver com tudo isso, ela não era só a namorada dele? E esse é o grande mistério do livro, pois, para nós, Maja se apresenta realmente como uma jovem cheia de arrependimentos, dúvidas e autocríticas, mas também uma moça controlada, que não faz coisas erradas e que realmente se importa com os outros, principalmente com Sebastian, o menino problema.

Como assim ela é que está sendo acusada de ser a mandante desse massacre? O livro consegue segurar esse mistério até quase as últimas páginas, prendendo o leitor com força total nas palavras. As explicações são mais que justas e fazem o leitor se questionar sobre o peso dos nossos erros e o perigo de se brincar com outras pessoas.

Metade do livro se reserva às lembranças de Maja, e é lá que estão também alguns deslizes significativos. No meio da leitura, a trama se perde em explicações exageradas e prefere entregar todas as respostas de bandeja para o leitor, aqui não há muito o que se desvendar, não chega a ser uma coisa muito ruim, mas é chato não deixar o leitor pensar no que poderia ter levado ao massacre. A segunda parte do livro se reserva aos tramites judiciais e acompanhamos dia-a-dia a rotina de uma corte penal. A autora é uma ex-advogada e realmente toda a sua experiência está presente na leitura, pois essas passagens são as mais interessantes, as mais bem desenvolvidas e com a melhor escrita de todo o livro. O livro é longo, mas as palavras voam alto quando o assunto é descrever o julgamento de Maja.

Se trata de um livro sueco que já virou uma série na poderosa Netflix. Li o livro e fiz esse texto sem ter assistido ao seriado, mas trama, eles realmente tinham para um bom show. O desfecho é muito competente ao encerrar uma história de culpados, todos são culpados de alguma coisa, só precisamos é saber distribuir a culpa, quem fez o quê, quem merece pagar e quem merece ser livre. Não é um livro confortável para se ler, o tema é extremamente pesado e pode, sim, liberar gatilhos em quem estiver se sentindo frágil. Mas a mensagem central do livro não é passar pano para assassinos e nem muito menos justificar seus atos maléficos, o objetivo era apresentar uma história de ficção que infelizmente pode acontecer em qualquer lugar do mundo, resta para nós, a missão de nos informarmos e acompanharmos de perto a rotina dos jovens nas escolas e o que se passa em casa e na cabeça dessas crianças, para que no final, pequenas ou grande dores não se transformem em uma catástrofe.


AVALIAÇAO:


AUTORA: Malin Persson GIOLITO nasceu em Estocolmo, na Suécia em 1969, e cresceu em Djursholm. Trabalhou como advogada para o maior escritório de advocacia da região nórdica e como funcionária da Comissão Europeia em Bruxelas. Areia Movediça é seu mais recente romance, vendido para 29 países e adaptado como série pela Netflix. Malin mora em Bruxelas, Bélgica, com o marido e as três filhas.
TRADUÇAO: Alexandre RAPOSO
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 352


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