O ato de se alimentar, comer uma boa comida, é de longe um dos maiores prazeres da vida. Mas e se do nada isso se torna um pesadelo? Para várias mulheres, o ato de levantar um garfo era o momento que as separava da vida e da morte.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Magda Ritter, uma jovem alemã de raça pura, foi recrutada pelos nazistas para exercer uma tarefa apavorante: ser a provadora de Hitler. Ela, junto de outras moças, era responsável por provar todos os alimentos que seriam destinados ao Führer. O líder da Alemanha, apavorado com a possibilidade de ser envenenado pelos inimigos, recrutava moças arianas para tal tarefa. E cada prato, cada garfada, poderia ser a última. Vivendo com esse medo diário, Magda precisa estudar e aprender a reconhecer os venenos presentes na comida antes de ingerir. Ao mesmo tempo em que se apaixona por um capitão da S.S., Magda se vê no meio de um complô para encurtar a guerra com o assassinato do líder do Terceiro Reich.

UM BANQUETE PARA HITLER vai se passar nos últimos três anos da guerra e acompanha o dia a dia de uma jovem alemã. Os rapazes eram necessários no exercito, os mais velhos nas fábricas, e os idosos no partido político, mas e as mulheres? Sua principal função, era se casar e produzir jovens arianos para a Alemanha, e Magda se vê no meio dessa questão. Inicialmente, a trama acompanha sua luta para conseguir emprego e um marido, uma visão bem diferente do que estamos acostumados, pois compreendemos que para uma jovem, a guerra não significava muita coisa. Em quase todos os casos, as moças não sabiam das situações nas batalhas, e suas cidades ainda não haviam sido tocadas pela brutalidade. E nisso, ela acaba esbarrando nesse emprego tenebroso.

A função, por si só, é um pesadelo, e o livro não cansa de chocar o leitor na hora da prova dos pratos. Mas a trama não para por ai: o livro aborda muito bem os luxos que circulavam a alta cúpula do Partido Nazista. Para eles, era tudo do bom e do melhor, nada faltava, e eles ainda tinham diversões, como clubes de dança e cinema, tudo isso em meio a uma guerra sangrenta. A máquina de propaganda nazista era de fato muito eficiente, pois, por mais ingênuos que essas pessoas fossem, elas sabiam dos horrores que estavam acontecendo na Polônia e na Rússia, nos famosos campos de concentração.

O livro é um romance baseado em fatos reais e em uma entrevista misteriosa que veio o público em 2013. O texto lembra um pouco o livro MUNIQUE. O fato é real, porém, alguns personagens e subtramas são fictícios. Mas, infelizmente, alguns diálogos e situações ficam um pouco exagerados, nem sempre é possível mergulhar nas palavras. Porém, a leitura se recupera, e o sentimento de irrealidade logo some quando caminhamos para os capítulos finais. A leitura em si é rápida e flui com facilidade e chega a ser chocante o nosso estado ao finalizar o livro, passamos por tanta coisa, que parece que essa guerra durou décadas. O texto começa com uma moça jovem e uma escrita mais leve, em seguida a moça amadurece às pressas, graças ao medo constante que a persegue, e no final temos uma mulher em pedaços.

As últimas noventa páginas são um aperto constante no coração. O grau de brutalidade do texto e de suas descrições se eleva e todo o ar de desgraça em segundo plano é jogando na cara do leitor. Agora sentimos o real peso da guerra, principalmente para as mulheres que ficaram para trás em casa. O livro caminha por quase todos os horrores possíveis e impossíveis, e a leitura dessas linhas, principalmente para as mulheres, deve ser um martírio. Para mim, um leitor homem, tais capítulos foram um choque constante no coração, não esperava que a leitura fosse por esse caminho.

Esses horrores não podem ser esquecidos, pois nunca devem ser repetidos, e o que mais choca é saber que tudo isso ocorreu há menos de 80 anos. O que são 80 anos na historia da humanidade? A vida é um sopro, um sopro lindo e poderoso que deve ser valorizado e respeitado. A guerra desperta o pior nas pessoas, e nossa protagonista, Magda, sentiu isso na pele. O amadurecimento da moça sob nossos olhos, além de emocionante, é um exemplo de coragem e sobrevivência.

UM BANQUETE PARA HITLER é totalmente narrado por uma mulher que precisou se tornar forte para sobreviver. Sua visão, originalmente, não teria nenhum valor na mídia, mas felizmente o tempo reservou seu espaço na história. Nem todos os alemãs eram nazistas, nem todos eram irracionais e nem todos eram demoníacos. Através de Magda, o autor recria uma das piores eras da humanidade, dessa vez dentro da casa de um dos maiores inimigos da raça humana, Adolf Hitler.


AUTOR: V. S. ALEXANDER
TRADUÇÃO: Cristina ANTUNES
EDITORA: Gutenberg
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 304


COMPRAR: Amazon