Existem várias histórias que adaptam os contos de fadas mais conhecidos de alguma forma. Sempre procuram inserir algo de novo, de original, para criar alguma diferença, conquistar um novo interesse. Cinderela é um dos contos mais antigos de que se tem conhecimento, tendo sua origem na China, por volta de 860 a.C., mas com sua versão mais famosa, a do francês Charles Perrault, de 1697, que por sua vez, foi adaptado de uma versão italiana. Existe também a versão dos irmãos Grimm, esta mais sombria e violenta, e por isso mesmo mais interessante.

Em CINDER, temos uma nova reimaginação da Cinderela, desta vez com uma pegada cyberpunk, com ficção-científica e uma pitada de romance. Cinder é uma mecânica que conserta robôs e quase qualquer aparelho eletrônico. Ela é uma ciborgue, ou seja, uma pessoa modificada ciberneticamente. No caso dela, um dos pés e uma das mãos são sintéticas, e possui alguns enxertos no cérebro, nos olhos e em algumas outras partes do corpo. Adolescente que nunca conheceu a mãe e perdeu o pai quando era uma criança, ela foi adotada pela madrasta e vive com duas meias-irmãs, que sustenta com o dinheiro que ganha na oficina.

Cinder mora em Nova Pequim, a capital da Comunidade Oriental, uma das seis regiões que foram formadas após a Quarta Guerra Mundial. Essa guerra causou mais do que destruição: ela fez com que várias pessoas fossem morar na Lua, agora chamados de lunares, que vivem em uma monarquia, cuja rainha é uma tirana que se chama Levana; e fez surgir uma nova doença, uma peste mortal, chama de Letumose, incurável e altamente contagiosa. Qualquer contato com alguém doente é suficiente para transmitir a doença, por isso as pessoas infectadas são levadas para lugares de quarentena, seus bens confiscados, onde aguardam uma morte triste e dolorosa. O imperador de Nova Pequim contraiu Letumose, e seu filho, o príncipe Kai, conta com a ajuda do dr. Erland para encontrar uma cura antes que o pai morra.

O único local que não é afetado pela peste, é a Lua. Entretanto, as relações da Terra com a Lua não estão boas, Levana possui um exército gigantesco e está prestes a fazer uma visita diplomática a Nova Pequim, onde pretende realizar negociações sobre a situação das regiões terrestres e da doença. Mas ninguém sabe quais são suas reais intenções. Quando o imperador morre e Kai assume seu lugar de direito, Levana finalmente mostra do que é capaz e o que tem guardado para conquistar a Terra.

Em paralelo a esse cenário de guerra e morte, a android de confiança de Kai para de funcionar, devido a um defeito desconhecido, e ele pede referências sobre quem seria a melhor mecânica de Nova Pequim. É assim que ele conhece Cinder. Mas a fase que Cinder enfrenta também é das piores. Embora sua madrasta, Adri, seja uma megera aproveitadora que odeia Cinder, bem como uma das meias-irmãs, Perl, Cinder mantém uma amizade profunda com a outra meia-irmã, Peony. Acontece que Peony contraiu a Letumose e caminha para a morte. Adri culpa Cinder pela transmissão da doença, e por isso, a entrega ao governo, que realiza pesquisas em androids como forma de tentar encontrar uma cura para a peste.

O dr. Erland é o responsável pelas pesquisas, e quando ele examina Cinder e insere a Letumose nela, para testar uma das novas versões de uma possível vacina, se surpreende por Cinder ser imune à Letumose. Investigando o motivo, ele descobre muitas outras coisas sobre o passado da garota, coisas que a tornam única, não apenas para a erradicação da peste, mas também como a única esperança da Terra contra o inevitável ataque do povo da Lua e de Levana.

O que escrevi acima são apenas algumas das coisas passadas nos primeiros capítulos do livro. Existe muitas outras informações, muitas outras surpresas, além daqueles detalhes que lembram as passagens do conto original da Cinderela. Não espere magia, fadas que voam, o sapatinho de cristal, ou a carruagem em forma de abóbora, ou mesmo os ratinhos que viram cavalos. De certa forma, tudo isso está em CINDER, mas de uma forma completamente diferente, que deixará você vibrando, sorrindo.

Tudo em CINDER é urgente, é mortal, é perigoso. Cinder não é uma princesa que precisa de um príncipe. Nesta versão, ela é uma adolescente insegura, mas com um caráter forte, com uma coragem crescente, que aos poucos consegue a força para enfrentar sua madrasta, para se sacrificar em prol de uma cura para a peste e com a força para se opor a uma rainha maquiavélica.

Kai é o príncipe da história, claro, mas ele não é aquela versão perfeita. Ele se apaixona por Cinder, mas de uma forma deformada, cheia de segredos, de mentiras que parecem verdades, e com a responsabilidade de chefe de um povo como principal preocupação, e não apenas o amor. Da mesma forma que Cinder, ele tem o caráter para se sacrificar em benefício de seu povo, mesmo que isso signifique deixar seus sentimentos de lado.

O romance não é o foco de CINDER. A história é quase inteira sobre planos obscuros para conquistas. Os personagens farão qualquer coisa para a cura da peste, para combater Lavena, nem que algumas dessas coisas não sejam completamente corretas e comprometam a segurança e a felicidade de outros. O mais competente da história, é como a autora conseguiu juntar tudo isso de uma forma tão impactante, dinâmica e natural, que torna a leitura deliciosa e urgente.

CINDER é o primeiro volume de uma série, que traz outras personagens dos contos de fadas, como Rapunzel, em CRESS, Chapeuzinho Vermelho, em SCARLETT, Branca de Neve, em WINTER e um último volume sobre Levana, a rainha má. Todos eles são interligados, os personagens vão se juntando para formar um exército que consiga fazer frente ao da rainha, o que acontece na parte final. E, acredite, vale demais a leitura!


AUTORA: Marissa MEYER
TRADUÇÃO: Maria Beatriz Branquinho da COSTA
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2013
PÁGINAS: 448


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