Você se lembra do filme BUSCANCO…? Aquele suspense que se passava praticamente dentro de um computador, da Internet em si, e acompanha um pai em busca de sua filha desaparecida. O mesmo diretor desse filmaço retorna agora para um filme da Netflix chamado FUJA, um suspense que dessa vez tem uma mãe como protagonista e que infelizmente não chega nem perto da qualidade do seu filme anterior. Chega mais que eu te conto tudo!

A trama é bem simples e acompanha uma menina cadeirante que vive com sua mãe. A jovem é muito inteligente e observadora, porém é muito doente e se entope com os vários remédios que a sua mãe lhe dá. A jovem começa a desconfiar que tem algo errado quando a sua medicação muda do nada e quando ela vai observar melhor o rótulo, vê que o remédio está receitado para a sua mãe e não para ela. A sua mãe é uma mulher estranha, controladora e instável, logo a jovem tenta buscar informações sobre o remédio sozinha, mas a Internet não funciona, o telefone é difícil operar no sigilo e elas moram numa casa bem isolada, fora o fato de que a menina é cadeirante. Tem alguma coisa errada ou ela apenas está exagerando dando pano para essas suspeitas? O que ela espera encontrar nessas buscas?

Esse é um daqueles filmes que a sinopse já entrega tudo o que vamos achar no filme, praticamente não temos mais nada para esperar dessa produção, além do fato de que temos uma mãe estranha e uma filha desconfiada. O roteiro até consegue construir um pouco de tensão no inicio, parece uma rua sem saída, porque o remédio está endereçado para a mãe, mas ainda assim ela dá o remédio para a filha, dizendo que o médico mudou a medicação do nada. Mas o que esse remédio faz não sabemos e essa busca de informação pela protagonista desencadeia uma série de revelações que não são nada surpreendentes, pois o filme não consegue subverter o espectador, o filme flerta com um caminho e vai nele até o final, parece um roteiro que parou no tempo, com direito a vários clichês usados em outros diversos filmes.

O maior destaque vai para o elenco, especialmente para a atriz Kiera Allen, a jovem que também é cadeirante na vida real. Só isso já é um grande avanço na representatividade, pois Keira é apenas a segunda atriz cadeirante a estrelar um filme de suspense. A última vez que isso aconteceu foi em 1948. E mesmo com todas as dificuldades, a atriz segura o filme e comanda as emoções do espectador, que torce por ela a todo o momento. Ela é inteligente, dedicada e não se dá por vencida, prepare-se para ver ela lutando até o fim pelo que acredita.

Ao seu lado vivendo a mãe, temos a grande Sarah Paulson, atriz multipremiada na TV e com diversos papéis de destaque no cinema, vive aqui uma mulher instável e misteriosa. Como sempre, ela arrasa em qualquer cena em que está presente, porque seus sorrisos psicóticos assustam ao mesmo tempo em que as suas motivações são sempre ambíguas. Porém a roteiro não ajuda a atriz entregando linhas de diálogos sofríveis em que a atriz tira leite de pedra na esperança do resultado final não ser patético, e graças ao seu talento e experiência, ela sempre chega ao objetivo.

Temos uma trama simples e clichê, com um elenco ótimo e uma interessante tensão. Mas tudo isso vai por água abaixo conforme o filme avança, pois a trama foge completamente da realidade e investe seu tempo em absurdos. O espectador não consegue mais se divertir ou sentir mais nada com o filme, porque ele está usando o seu tempo para questionar o que vê. Por que ela fez isso? Por que ninguém fez nada? Por que isso aconteceu? A produção investe todo o seu ato final em decisões burras, ilógicas e muito menos críveis. Quando o espectador para e reflete, tudo piora. Se você buscar lógica, vai ter dor de cabeça. Fora as grandes revelações no final, que são dignas das piores novelas mexicanas dos anos 90, tudo já foi feito antes e de forma muito melhor.

Um filme pequeno, com um grande elenco e um diretor que é muito talentoso, mas infelizmente seu roteiro se prova inconsistente e bizarro. Uma experiência extremamente esquecível e descartável.


DIREÇÃO: Aneesh CHAGANTY
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 1 hora e 30 minutos
ELENCO: Kiera ALLEN, Sarah PAULSON