Hoje em dia pedir um carro pelo celular é uma das coisas fáceis e práticas que podemos fazer com um smartphone. Dá para ir a qualquer lugar, não importa o horário, e os preços são bem atraentes. Acabou aquela época em que pegar um carro, um táxi, era complicado e na maioria das vezes os valores eram imprevisíveis. Quem mudou tudo isso foi a Uber, e no livro A GUERRA PELA UBER, teremos um pequeno vislumbre dessa empresa que mudou o mundo e que, por muito tempo, foi uma das empresas mais sujas e odiadas da indústria.

O principal nome por trás desse aplicativo que mudou o mundo é Travis Kalanick, inventor, criador e CEO da Uber. Jovem, descolado, ambicioso e imprevisível, Travis comandou a empresa no seu início turbulento, desafiando a ira da indústria dos táxis, que detinham o poder no jogo das corridas de carros com clientes. O CEO da Uber, que é basicamente quem manda e decide os rumos da empresa, foi uma pessoa que queria se cercar de gente parecida com ele. Seus funcionários eram jovens e ambiciosos, juntos eles espalharam a Uber para todo o mundo. Mas esse avanço veio à base de muitos absurdos como espionagem industrial, assédios moral e sexual, longas jornadas de trabalho, práticas sujas e imorais e, acima de tudo, muito dinheiro, sexo, drogas e tudo mais que essas coisas trazem.

O livro nos apresenta seus vários fundadores e todo o caminho que eles percorreram até chegar na Uber. Todos eram inteligentes e criativos, já tinham bastante experiência com serviços para a Internet e acima de tudo, queriam revolucionar o mundo. O foco da narrativa fica em Travis, o grande chefe, que queria ser tão grande ou maior que a própria Amazon, o grande império varejista que hoje em dia está em praticamente todos os setores. Assim como a Amazon mudou a forma em que as pessoas compram e consomem diversos produtos, a Uber também mudou a indústria do transporte. Todo mundo já pediu um Uber, viu um Uber ou já ouviu falar desse serviço, que no começo, por incrível que pareça, era voltado para pessoas ricas e carros de luxo. Mas quando o UberX chegou, trazendo com ele a possibilidade de que qualquer pessoa com qualquer carro também possa usar os serviços para pegar clientes em qualquer lugar, desencadeou uma série de acontecimentos que, por um tempo, foi uma autêntica guerra.

Não é segredo para ninguém que a Uber teve que lutar bastante com o governo para conseguir sobreviver, pois o jogo de interesse não queria que esse sistema de empregos autônomos tivesse êxito. Qualquer pessoa com tempo livre poderia ser um motorista da Uber, qualquer pessoa poderia lucrar com esse sistema. No começo o esquema era simples, um carro de luxo, com motoristas profissionais, um aplicativo onde os clientes pediam um carro e outro aplicativo em que os motoristas aceitavam as corridas. Lá mesmo o cliente já botava o endereço de embarque e destino, os dados de um cartão de crédito e só. Um transporte rápido e prático para quem quer ir de um lugar para o outro com agilidade. Hoje em dia isso é muito comum, mas em 2009 era uma das maiores revoluções do mundo digital e que mudaria a indústria do transporte para sempre.

A GUERRA PELA UBER caminha pelo gênesis da empresa e reserva o maior tempo para a criação desse mito. E como eles apresentavam esse serviço para o público? Como atrair clientes e motoristas? E a resposta para isso é apenas o simples e cobiçado dinheiro. Quem chegasse primeiro iria dominar o mundo e a Uber sabia disso, logo ela oferecia diversos incentivos para os motoristas, smartphones grátis e milhares de corridas grátis ou com descontos absurdos para fazer a Uber cair no gosto e na rotina das pessoas. A estratégia deu certo, mas a odisseia para atrair esse tanto de investimentos que a Uber precisava para se manter em pé reserva muita ganância e risco. O leitor a todo momento se choca ao ler sobre tanto dinheiro em movimento, tanta tramoia e interesse que a gente fica até tonto.

E toda essa revolução vem também com polêmicas com a empresa basicamente não ligando para os motoristas que não tem direitos trabalhistas. Fora o fato dos mesmo se matarem em cargas horárias surreais para conseguir o seu sustento, já que não existe limite de tempo em que uma pessoa pode trabalhar. Claro que é válido dar total autonomia ao motorista, mas será que ele está recebendo bem? Quem está lucrando mais, a empresa ou a pessoa que fez todo o trabalho pesado? E é nessas e outras que o leitor fica completamente colado nas palavras tentando achar uma resposta.

De longe parece um livro bem específico para quem gosta do tema, mas a narrativa empregada faz essa história ser acessível para qualquer um. A leitura não tem uma linguagem técnica incompreensível, seus capítulos são pequenos, ágeis e muito bem divididos. Os melhores trechos são aqueles em que a intriga entre os poderosos se choca com o avanço da empresa, porque é incrível notar que por dentro tudo parecia estar explodindo, mas por fora tudo avançava e dava certo. O livro acaba perdendo força no ato final, que se reserva a trabalhar a grande mudança que era necessária dentro da empresa. Tirar o antigo CEO tóxico e festeiro, para dar lugar a outro mais centrado e focado. Essa mudança acaba se estendendo demais, porém não prejudica em nada o trabalho num conjunto.

No final nós temos uma autêntica saga de avanços e absurdos, até o Brasil está presente na narrativa. É um livro extremamente completo e assim como o serviço da Uber, bastante prático. A edição nacional está impecável e até a textura da capa do livro físico é interessante, pois ao toque lembra um veludo, algo chique e confortável. Uma história de início, meio e fim, sujeira, guerra e revolução, bastante viciante, vale uma conferida.


AUTOR: Mike ISAAC
TRADUÇÃO: Alexandre RAPOSO, Bruno CASOTTU e Leonardo ALVES
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 451


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