BODAS DE SANGUE, do autor Pierre Lemaitre, anteriormente lançado como VESTIDO DE NOIVO, traz a história de Sophie, uma jovem viúva que trabalha como babá na casa de um casal. Esse casal é muito rico e trabalham muito, portanto, Sophie passa os dias e até algumas noites com a criança. A família pouco sabe sobre ela, pois Sophie não costuma se abrir para assuntos mais particulares, mas aspira confiança e inteligência, e o casal até estranha que ela tenha aceitado o cargo, pois é formada e jovem, deveria ser cheia de sonhos.

O que eles não sabem, é que Sophie está ficando louca. Seu sono é completamente desregulado, às vezes dorme demais, objetos que estavam por perto, somem e por vezes aparecem dias ou semanas depois em lugares inimagináveis, ela vai parar em lugares onde não se lembra de ter ido, esquece datas, sua mente está sempre confusa e ela está certa de que tudo isso vai piorar.

Certo dia, o casal chega tarde e diz que, se for da sua vontade, Sophie pode ficar para dormir. No dia seguinte, Sophie se depara com uma cena terrível: o garotinho está morto, amarrado, praticamente em seu colo. Ela não se lembra de ter feito aquilo, tudo está tão confuso na sua cabeça… E além disso, ninguém vai acreditar numa babá misteriosa com problemas de memória. Com medo de ser considerada culpada, decide fugir e, nessa jornada, pessoas morrem ao seu redor e ela continua não se lembrando de nada.

O livro começa com esse impacto, um assassinato nas primeiras páginas e a fuga logo em seguida. A narrativa é envolvente e brinca com o leitor, mesmo sendo narrado em terceira pessoa. O autor não revela nenhuma pista sobre o que pode ter acontecido, e a personagem principal não é nada confiável, então a dúvida se ela matou ou não aquelas pessoas paira pela leitura até metade do livro e as reviravoltas acontecem até a última página.

A leitura é fluida e eletrizante, a cada momento Sophie está num lugar diferente e já busca outro para se esconder. Muda o visual e troca de identidade, tudo sempre muito dinâmico. Na segunda parte da leitura é inacreditável como a história se torna mais sombria com a nova perspectiva. A partir daí, vamos descobrindo aos poucos os motivos de tudo aquilo estar acontecendo e surgem revelações sobre o passado conturbado de Sophie.

Sobre a diagramação, me incomodou a falta de separação de capítulos em alguns momentos, pois na segunda parte entra um segundo tipo de narração e alterna entre elas sem avisar, o que faz perder um pouco o ritmo na leitura. Mas um ganho importante foi na diversidade de narrativa, que além da terceira pessoa, conta com um diário e flashbacks onde o autor conseguiu transmitir toda a eletricidade dos acontecimentos.

O livro não tem muitos personagens importantes, cada um tem sua passagem que se faz lembrar, mas que não chega a cativar ou marcar o leitor de alguma forma. Só tem um outro personagem marcante, que não pode ser citado para não estragar a leitura. A personagem principal é inteligente e mesmo com seus problemas, é capaz de se manter segura da melhor forma que pode. Mesmo não sabendo se ela realmente matou aquelas pessoas ou não, é possível torcer para que sua fuga seja bem sucedida e que tudo seja esclarecido.

O final foi incrível e digno, dramático na medida certa. Nos mostra a capacidade de vingança e sobrevivência do ser humano de uma forma crua e voraz. É uma ótima indicação para os leitores de thriller.


AUTOR: Pierre LEMAITRE
TRADUÇÃO: Zéfere
EDITORA: Gutenberg
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 272


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