Luke tem dezesseis anos e acaba de ser comunicado, através de uma carta, do falecimento de seu pai, um apresentador famoso de programas de televisão de caça-fantasmas. Luke nunca teve contato com o pai, que sempre ignorou seus telefonemas ou qualquer forma de aproximação. A carta informa que ele deve comparecer em uma empresa de advogados para acompanhar a abertura do testamento. Para sua surpresa, descobre que o pai lhe deixou alguns milhões de dólares, um estranho livro lacrado e documentos escritos em um dialeto desconhecido. Pouco depois, Luke também descobre que o pai era, na verdade, um necromante, que mantinha como escravos oito espíritos, e que agora esses oito espíritos lhe pertencem. Mais que isso. Os oito espíritos querem matar Luke para ficarem livres, e pretendem fazer isso no Halloween, quando o poder deles aumenta. Então, Luke, com a ajuda de Elza, uma amiga vidente, tem treze dias para conseguir derrotar os espíritos.

Essa é a premissa de 13 DIAS DE MEIA-NOITE, e durante a leitura, eu senti uma grande similaridade com outro livro de terror para adolescentes, ANNA VESTIDA DE SANGUE. Embora as histórias não se pareçam, a não ser pelo gênero, ambas são permeadas pelo humor negro, pelas decisões imaturas, embora divertidas, pelos ataques dos espíritos, e tudo em uma narrativa ágil, cheia de reviravoltas. Apesar de possuir trechos com alguma tensão, eles não chegam a assustar. São emocionantes, no mesmo estilo de séries como BUFFY e SUPERNATURAL.

Luke é um personagem cativante, construído com as qualidades e os defeitos de alguém de sua idade. Ele é impulsivo e inconsequente, só pensa melhor depois de fazer algo, mas os adolescentes são assim mesmo, não é?. Foi fácil torcer por ele e me importar com ele. E o que ajudou muito, foi sua relação com o cachorro, Presunto; com Elza; e sua preocupação constante com a saúde da mãe, que parece mais doente a cada dia. Outro ponto que causou momentos de riso, foi a inteligência. Pensar não é a principal qualidade dele. Mas a compaixão é. E isso é interessante de comprovar na parte final da história, quando ele precisa decidir o destino de um determinado personagem que fez coisas muitos ruins no passado.

Elza é a estranha do colégio, sempre isolada, sempre motivo de fofocas e escárnio. Luke descobre que a principal razão para o comportamento dela ser assim, é porque ela enxerga fantasmas. E numa cidade antiga, cheia de lendas, existem muitos fantasmas para serem vistos. A relação dos dois começa quando ela vê alguns dos oito espíritos que pertencem a Luke, e é isso que aproxima o casal. Da mesma forma que Luke, Elza é a típica adolescente, cheia de inseguranças, deprimida pelo isolamento, com a revolta de não poder responder à altura de quem a acusa de coisas que ela não controla. Elza e Luke combinam de uma forma estranha, e estranheza é o que mais combina com uma história de terror.

Os oito espíritos são bem singulares, e cada um deles possui características próprias bem distintas:

I – O Pastor: Liderença
II – O Vassalo: Lealdade
III – O Herege: Dissidência
IV – O Juiz: Razão
V – O Oráculo: Intuição
VI – O Prisioneiro: Desejo
VII – O Inocente: Paz
VIII – A Fúria: Poder

O autor soube criar essas diferenças de forma competente, uma vez que eu consegui sentir simpatia por um, consegui compreender os motivos das atitudes de outro, acreditei no perigo que o principal deles representava, bem como achei convincente o motivo deles terem tanta raiva do pai de Luke e o motivo de desejarem a morte do filho. Em uma trama recheada pelo fantástico, se o autor não souber dosar o incrível com o crível, o leitor pode não se importar, ou mesmo acreditar, no que está lendo, e aí o objetivo do livro, passar horror, se perde.

Existem algumas surpresas na trama, principalmente na parte final, quando a pessoa mais improvável, é a pessoa que pode ajudar Luke e Elza a impedirem os oito espíritos de se libertarem no dia de Halloween. Também existem algumas coisas que podem deixar o leitor mais sensível chocado, não exatamente pelo que acontece, mas pelo que o pai de Luke fez para se tornar um necromante e conseguir comandar oito espíritos. Eu me senti incomodado pela revelação dos atos. Ou seja, o autor atingiu seu objetivo.

13 DIAS DE MEIA-NOITE é uma aventura de terror que entretém, que consegue misturar momentos de terror com momentos de humor negro e outros momentos divertidos. Os personagens são deliciosos e é fácil torcer por eles, se importar com eles. E, como disse lá em cima, isso é uma das principais coisas em livros desse gênero, criar credibilidade e empatia para que o leitor realmente sinta algo com o que está lendo.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Leo HUNT se formou em 2014 em Escrita Criativa e Literatura Americana na Universidade de East Anglia, Inglaterra. Hoje, é escritor em tempo integral. Seu romance de estreia, 13 dias de meia-noite, foi publicado no verão de 2015 e indicado ao Branford Boase Award de 2016 e finalista do Waterstone’s Children’s Prize do mesmo ano
TRADUÇÃO: Eric NOVELLO
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 285


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